Pois é, mais um artigo que se inicia com o termo “e o inverno chegou”. E chegou mesmo! Pandemia, que gera crise mundial, que gera alta da inflação e escalada dos juros é o cenário perfeito para a volatilidade do mercado. E o resultado prático: investidores bem mais criteriosos, procurando startups que já possuam um certo cenário de tração, ou seja, resultados consistentes.
Vejo claramente que as torneiras se fecharam. Tivemos um recuo médio de 51,8% do volume investido pelos Venture Capital, comparando o primeiro semestre de 2022 com o de 2021. Isso dá, mais ou menos, um recuo de R$ 22,4 bilhões para R$ 11,6 bilhões.
Mas mesmo diante deste cenário, cabe-me aqui indagar-lhes. O que é um Venture Capital? São fundos de capital de risco, uma modalidade de investimentos alternativos que investe essencialmente em startups, comprando uma participação minoritária, com o objetivo de valorizar essas ações num futuro e, consequentemente, sair da operação. É um stakeholder de extrema importância neste mundo de startups em que atuo, pois sem eles é muito difícil tirar do papel aquilo que estudamos e planejamos.
Gostaria então de puxar a seguinte reflexão: se a essência é risco, por que se comportam atualmente como Private Equity? Resultados consistentes deveriam ser traduzidos exclusivamente com receitas recorrentes?
Participo diariamente dos famosos Pitch Decks, que são apresentações com o objetivo de mostrar o produto da startup, o modelo de negócio e como esses investidores enxergam o potencial de geração de lucro. No meu caso, que sou ainda uma startup early stage, meu desafio é mostrar um problema identificado, como minha solução resolve tal problema e como consigo monetizar por esse serviço.
E aqui quero ter a audácia de introduzir um novo conceito de startup. Já conhecemos as Unicórnios, as Dragões e mais recentemente as Camelos. A minha é uma lagarta. Um bicho meio feinho, que anda devagarzinho, mas que já, já se tornará um dos animais mais belos da nossa fauna: uma borboleta. Isso porque sabemos aonde queremos chegar e o que precisamos fazer para isso. Precisamos apenas de um pequeno estímulo.
Há inúmeros desses exemplos no mercado. Há muita gente perdida, mas há muitas lagartas ainda soltas no ecossistema. Ainda não valemos o que demonstramos, mas apresentamos um ticket de investimento baixo, mas necessário para essa mutação. E com planejamento mercadológico e financeiro responsável, conseguimos provar essa tese.
Bravo ao Adam Newmann, ex-We Work, que conseguiu captar US$ 350 milhões recentemente com seu novo projeto, chamado Flow. Ele já existe e traz resultados consistentes? Ainda não.
Senhores venture capitalistas, não deixem se cegar apenas pelos resultados presentes, o que não está errado! Essa fonte também está escassa! Concentrem-se em teses interessantes, cujos founders conseguem demonstrar com clareza como chegarão lá com a união de vocês. Colocando-nos apenas como produtos financeiros, o ciclo se encerrará em breve. Continua sendo uma aposta de risco, mas calculado tanto quanto.
* Carlos Castro é CEO do apepê, proptech que atua como concierge digital condominial, focado nas necessidades do morador.