Desde as primeiras menções feitas por Salim Ismail, diretor executivo e fundador da Singularity University e autor principal de Exponential Organizations, o termo gestão exponencial sempre esteve ligado a empresas da nova geração. Elas são marcas como Airbnb, Netflix, Uber, assim como as brasileiras XP Investimentos, Nubank, entre outras, que nasceram como startups, mas rapidamente assustaram suas indústrias com um ritmo alucinante de crescimento baseado em intensas inovações e uso de tecnologia emergentes.
Claro que esses desempenhos chamaram a atenção do ambiente institucional e incentivou companhias com décadas de tradição a iniciarem movimentos na direção dessa maneira de administrar o futuro das organizações. Mas não precisa ser especialista para saber que é muito mais fácil criar uma organização a partir do zero com esse tipo de visão do que transformar culturas construídas após anos e anos de grandes esforços para disseminar processos que, de uma forma ou de outra, proporcionaram resultados positivos a essas companhias, baseados em conceitos que faziam sucesso em épocas anteriores.
Em função dessa maior dificuldade, ainda são poucas as empresas estabelecidas que podem ser apontadas como representantes da gestão exponencial. A novidade é que a pandemia causou uma aceleração nos experimentos e está servindo como um incentivo para que os projetos saiam do papel e sejam colocados em prática, substituindo antigos modelos por inovações aceleradoras de crescimento.
Este novo momento pode ser aproveitado para intensificar os movimentos e atravessar a ponte entre o normal e o exponencial. Mas para isso, é fundamental entender o que há em comum entre os ícones da evolução acelerada.
Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que gestão exponencial está relacionada a uma visão de longo prazo. Não é possível construir um negócio com esse tipo de ambição baseado em uma visão de curto prazo. Também é fundamental a consciência de que nessas empresas a cultura de inovação é um princípio muito forte e estimulado tanto de cima para baixo quanto de baixo para cima em todos os níveis da organização. Nelas, as pessoas são estimuladas todo o tempo a pensar diferente e encontrar soluções novas.
Empresas orientadas por gestão exponencial desenvolvem uma visão aguçada do mercado e conseguem antecipar tendências com uso de dados e, ao fazerem isso, constroem marcas fortes e muito bem posicionadas que transformam clientes, fornecedores, colaboradores e todos os públicos em fãs de seus produtos e serviços.
Outra característica marcante é a capacidade de competir assimetricamente, ou seja, desenvolver a habilidade de concorrer em segmentos de mercado nos quais não atuava originalmente. Como exemplo dessa forma de atuação se destaca a Tesla, tradicional companhia do setor de energia que passou a construir os famosos automóveis elétricos, pegando todas as montadoras tradicionais de surpresa.
Muitas dessas características podem ser vistas como arriscadas, mas certamente também são constituídas de aspectos sedutores resumidos no próprio significado da expressão exponencial, que é entendido como um crescimento dez vezes superior ao de uma empresa normal.
Crescer de forma exponencial significa obter o maior número de clientes possível, com menor custo e utilizando o menor tempo para chegar a esse objetivo.
As mudanças obrigatórias realizadas para reagir à pandemia criaram a ponte que leva a esse objetivo. Para atravessá-la as empresas precisam se oxigenar para pensar e atuar de forma diferente. É preciso aprender com as empresas que já nasceram exponenciais. Criar ecossistemas ao seu redor para receber colaboração externa e interna. São passos que precisam ser dados. Caso contrário a ponte não terá muita utilidade.
* Flávio Padovan é sócio da MRD Consulting. Foi diretor de operações da Ford na América do Sul, ocupou o cargo de vice-presidente na Volkswagen do Brasil e foi presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa).