O período do fim do ano pode ser estressante para os brasileiros. Fechamento do ano nas empresas, Natal, Ano Novo, férias escolares. Dezembro é tempo de acontecimentos nada agradáveis, como filas intermináveis nas lojas (apesar da pandemia), conviver com parentes de quem você não gosta na fatídica Ceia de Natal, cuidar dos cansativos detalhes das festas, conseguir – sabe-se lá onde – dinheiro para comprar todos os presentes, entre outras atividades típicas de fim de ano. Tudo em poucos dias.
Existem muitas atividades externas que precisam ser cumpridas, enquanto internamente está acontecendo o mesmo: uma gama de sentimentos, imposições, restrições, acordos estão se manifestando a todo vapor, fazendo com que cada um possa, a seu modo, arrumar um jeito para lidar com os conflitos que surgem do lado de dentro e do lado de fora. Desde ter que revelar ao filho que ele precisará escolher um presente mais em conta, porque o que ele escolheu não cabe no orçamento, até ter que respirar fundo para lidar com família em um clima amistoso e festivo diferente, muitas vezes, do que se vê ao longo do ano. Essa é a magia do fim ano, com o apressar dos passos para acompanhar o calendário que se despede, com a possibilidade de renovação de esperança.
A Isma-BR (Internacional Stress Management Association – Brasil), associação voltada para o estudo do estresse, fez uma pesquisa sobre o impacto do fim do ano no equilíbrio mental. Dos 678 brasileiros participantes, 80% afirmaram que o nível de estresse aumenta no último mês do ano. Em média, o índice de estresse sobe 75%. Essa sobrecarga de responsabilidades tradicionais é pior ainda no Brasil, onde também é comum acumular Natal e Ano Novo com a preparação das férias.
O estresse de fim de ano também ajuda a provocar a chamada depressão sazonal, termo da psicologia para descrever os sentimentos de tristeza dessa época do ano. É bem verdade que cada um passa por momentos que são singulares e alguns percalços da vida demandam maior tempo de elaboração. É ainda comum as pessoas pararem para pensar no que aconteceu ao longo do ano, as realizações e fracassos: a hora de fazer retrospectiva. Dar aquela olhada para trás para ter uma visão panorâmica dos acontecimentos.
Como lidar com todas essas questões e ainda enfrentar o chamado estresse de fim de ano? É sempre importante pensar que a vida é daqui para frente, e que a retrospectiva pode ser uma forma de autoanálise, de verificar o que funcionou e o que não foi tão bom assim. O que funcionou pode ser recolocado na bagagem para levar para o próximo ano; o que não foi bom, melhor fazer um ajuste e verificar como pode ficar melhor, a fim de evitar que se repita. Ficar paralisado, se recriminando, não vai ajudar a seguir o fluxo da vida.
É também o tempo da lista de resoluções de ano novo, do que se espera para o próximo ano – ou, se mergulharmos mais fundo, do que se espera mudar em si mesmo. É hora de renovar votos, fazer acordos internos, reunir a bagagem emocional, que é tudo o que se é, e atravessar o mês de dezembro encontrando a motivação necessária para as mudanças desejadas. Mas, lembre-se, o desejo de mudança não deve ficar somente na expectativa da realidade externa, porque a mudança boa, é aquela que ocorre de dentro para fora.
Aline Oliveira é psicóloga e psicanalista, sócia da Human Touch Brasil – Consultoria Estratégia de Gestão de Pessoas