É cada vez mais comum que profissionais se sintam confusos e indecisos em relação à apresentação de vagas de trabalho. Se por um lado o necessário processo de digitalização, acelerado a partir da pandemia da Covid-19, permitiu manter milhões de empregos, ele fez surgir mais dúvidas e inseguranças a respeito das funções e correlações profissionais das vagas divulgadas nas mídias sociais, em ferramentas de recrutamento ou compartilhadas por gestores e profissionais de Recursos Humanos.
Esse cenário, recentemente destacado pela HR Executive, identifica a expansão do uso das novas tecnologias, a influência irreversível do home office, a existência de cargos com siglas, estrangeirismos, a exigência da compreensão de softwares cada vez mais específicos e a descrição de status que não se limitam mais aos tradicionais “analistas”, “assistentes”, “supervisores”, “gerentes” e “diretores”.
“A tecnologia realmente modifica a atuação de profissionais em todas as áreas das empresas. As vagas vão continuar existindo, mas exigindo cada vez mais, de líderes e analistas, conhecimento sobre tecnologia. Atualmente, um time de marketing precisa ter todas as habilidades necessárias para colocar de pé, e bem rapidamente, todo um conjunto de soluções que, há alguns anos, só a área de TI conseguia: landing pages, automações, dashboards, controle de métricas, crawlers, integrações, hacks, etc.”, aponta Miguel Fernandes, fundador da edtech Witseed.
Fernandes é Chief Technology Officer (CTO) na startup, o equivalente a diretor de tecnologia da empresa. Recentemente, ele sentiu na pele a necessidade de atualizar a descrição de sua função, quando passou a ser chamado por seus pares de Growth Manager ou CRO, sigla para Chief Revenue Officer, que combina as funções dos tradicionais cargos de diretor de Marketing, de Tecnologia e de Operações.
Uma enorme gama de atividades que, simbolizada por uma sigla, chega com força ao mercado . “Agora, dizem, a tendência é o CMTO. Ou seja, o Chief Marketing Technology Officer, posição que reúne as responsabilidades do tradicional CMO e do CTO. Alguns especialistas, inclusive, arriscam dizer que os CMOs serão substituídos pelos CMTOs. Será?”, questiona Fernandes, que brinca: “CTOs e CMOs precisam usar sapatos coloridos e gosto dessa discussão”.
O executivo leva na esportiva a profusão de nomes, mas trata-se de uma realidade muito comum em outros negócios. Martha Didier, porta-voz de RH e Customer Success da Witseed, avalia que as mudanças estão ocorrendo de maneira natural à medida que surgem novas tecnologias. Isso, segundo ela, gera ansiedade nas pessoas, pois se trata de um processo realmente novo e importante de acompanhar, tanto para um RH, quanto para um executivo ou um candidato.
“Vivemos em uma época de muitas dúvidas. As pessoas temem muito mais que perder seus empregos, temem perder a empregabilidade. Com o surgimento das inovações disruptivas e esses cargos, realmente temos vivido uma condição diferente do que nos acostumamos a ver. Soma-se a isso a constante dúvida se as novas tecnologias vão acabar com a participação humana em determinadas áreas”, pondera.
Didier, porém, não acredita que todos os trabalhos serão automatizados, mas que haverá cada vez maior combinação, foco e parceria entre pessoas e máquinas. O segredo, de acordo com os especialistas no assunto, é combinar inúmeras habilidades.
“O líder, em especial, precisa criar canais para ouvir e entrevistar as pessoas regularmente e estar aberto às transformações. Ele precisa estar atento para incluir e tornar o conhecimento acessível a todos, seja o time que está no remoto ou no presencial. Também deve se atentar ao tomar decisões que envolvam o time, com a presença de todos, ou seja, no digital”, indica.
Segundo a Reforma Trabalhista, aprovada em julho de 2017 pelo Congresso Nacional e em vigor desde novembro daquele ano, a partir da sanção presidencial, o plano de carreira poderá ser negociado entre patrões e trabalhadores sem necessidade de homologação ou registro em contrato, podendo ser mudado constantemente.
Atualmente também tramita na Câmara dos Deputados do Brasil uma proposta de reforma administrativa, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32/20, que visa atualizar a maneira como os salários e a jornada dos servidores públicos é aplicada no país, especialmente a partir da mudança estrutural no mercado de trabalho brasileiro e internacional com o avanço da digitalização em todas as áreas da economia.