Foram confirmados, nesta terça-feira (26), os primeiros casos de infecção pela nova variante brasileira do coronavírus em outro Estado do país além do Amazonas, onde ela foi originalmente identificada.
Trata-se de três pessoas atendidas em São Paulo, com “histórico de viagem ou residência em Manaus”, de acordo com nota divulgada pela Secretaria de Saúde local. Segundo a pasta, a confirmação foi dada pelo Instituto Adolfo Lutz, após análise do sequenciamento genético de amostras colhidas desses pacientes.
Denominada P1, a nova cepa, já detectada pelos governos de Japão e Estados Unidos em residentes que retornaram de viagens ao Brasil, é apontada como um dos fatores responsáveis pelo grande aumento do número de casos da Covid-19 em Manaus e pode estar associada a um maior potencial de transmissão da doença.
Não há, ainda “comprovação científica de que esta variante seja mais virulenta ou transmissível em comparação a outras previamente identificadas”, como destacou a Secretaria de Saúde de São Paulo. Mas, de fato, a P1 está por trás da maior parcela de infecções do coronavírus na capital amazonense, saltando de 52,2% das ocorrências locais em dezembro para 85,4% neste mês, segundo estudo realizado por pesquisadores do Centro Brasil-Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (grupo Cadde).
O próprio colapso do sistema de saúde no Amazonas, provocado pela recente explosão de casos da Covid-19, tem levado pessoas hospitalizadas no Estado para tratamento em instituições de outras regiões, como parte de uma cooperação interestadual apoiada pelo Ministério da Saúde e a Força Aérea Brasileira (FAB). Esses pacientes são normalmente isolados dos demais, mesmo sem ter sido conclusivamente diagnosticados como portadores da P1, como medida de precaução para evitar o alastramento da variante no país.
Para os especialistas, porém, a nova linhagem já deve estar presente em outros Estados brasileiros; sua detecção, contudo, é comprometida por problemas estruturais que prejudicam a realização em maior escala de sequenciamentos genéticos e o monitoramento genômico nacional, como a escassez de centros especializados e dificuldades na compra de insumos.
“Seguramente a cepa já deve estar circulando em outros Estados do Brasil”, disse à “Folha de S. Paulo” a imunologista Esther Sabino, integrante do grupo Cadde e professora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMT-USP).
Consultado pelo portal BBC Brasil, o epidemiologista Jesem Orellana, pesquisador do Instituto Leônidas & Maria Deane, vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (ILMD-Fiocruz Amazônia), concorda: “Não é possível que tenham achado em outros continentes e não tenha chegado a outros Estados”.