Será que estamos preparados para enfrentar uma crise como essa do
Covid-19? Temos como manter o supply chain intacto? Como responder às
necessidades do transporte de cargas em um momento de pandemia?
No momento atual da crise, a maioria dos setores da economia
desaceleraram, outros pararam totalmente, seja por falta de demanda seja por
falta de liquidez para tocar a operação ou pela falta de clareza de
como o setor deles vai ficar após a crise.
O agronegócio não. Pelo contrário. Neste ano, a produção de grãos e
exportações está chegando em patamares recordes. O agronegócio nem pode
parar — o Brasil, hoje, em tempos de crise, depende dele. Só que o
Coronavírus pegou o Brasil em um momento em que estamos no pico de uma
safra recorde.
É fundamental, nesse momento, que o setor rode bem. Só que,
pra isso acontecer, é necessária atenção redobrada à cadeia de
transporte. Ela é frágil, pois depende de amplo contato humano em sua
linha de frente.
Os caminhoneiros são os mais vulneráveis. Muitos deles fazem parte do
grupo de risco e o sistema tradicional não foi desenhado
para um cenário de pandemia. E aí está o dilema: como proteger a
cadeia de agro e logística, como proteger os 500 mil caminheiros e todas
as pessoas no ecossistema de transporte sem comprometer o fluxo dos
produtos agrícolas do qual dependem a nossa alimentação e a economia
brasileira?
O momento é difícil para todos, mas os caminhoneiros são essenciais,
principalmente de agora em diante que temos muito volume a ser
carregado. E esses profissionais, tão vitais para o funcionamento do
País, quando atuam em uma jornada tradicional, esbarram em diversos
pontos de contágio do Coronavírus.
No formato tradicional, eles precisam
parar no posto para procurar carga, esperar em filas nas
transportadoras em espaços muitas vezes pequenos e com aglomeração de
pessoas, recebem e precisam levar com eles documentos físicos que
precisam ser manipulados, entre outras situações. E isso inquieta porque
ameaça à saúde.
Chegou a hora de nos unirmos, como setor e sociedade
para repensar como o setor funciona para proteger ele desta crise e das
próximas.
E a notícia boa aqui é que, juntos, podemos implementar ações
simples, utilizando recursos e tecnologias existentes para minimizar
drasticamente o risco no setor.
- Informar e educar motoristas, embarcadores e transportadores
sobre as melhores práticas de higiene e distanciamento social. Aqui, a
tecnologia pode auxiliar, através do uso de WhatsApp, SMS e outros
canais de contato com esse público. Nós, como empresa, estamos enviando
pushes, mensagens e vídeos com frequência sobre como o motorista pode se
proteger. - Auxiliar os motoristas na proteção, distribuindo álcool em gel e
sabonete líquido em todos os locais possíveis e que haja água disponível
para a higiene. Um investimento baixo neste sentido pode ter um retorno
muito alto. - Alavancar tecnologias ao máximo para pegar, agendar e formalizar a
carga, além de facilitar a transferência de dinheiro do frete, pedágio e
as despesas do motorista. Se o motorista utilizar tecnologia para pegar
carga, elimina vários contatos físicos. Se recebe pagamento digital,
pode eliminar outros contatos. Hoje, não vamos eliminar todo contato
humano da jornada mas já existem plataformas para reduzir drasticamente a
quantidade de contatos físicos na jornada. - Possibilitar que embarcadores e transportadoras trabalhem juntos
para minimizar a troca de papel entre as partes, os motoristas e postos.
Cada papel trocado aumenta o risco de transmissão. Como setor, temos
muito a fazer para reduzir a quantidade de papéis trocados de forma
desnecessária entre as partes. - Eliminar o uso de comprovante físico de carga e outros documentos que não sejam estritamente necessários.
- Trabalhar para no médio prazo reduzir a dependência de documentos
fiscais no papel (CTE, CIOT, MDF e etc.), apoiando iniciativas para
migrar para um documento único digital de frete, o DT-e. A tecnologia de
marco legislativo neste sentido existe para reduzir drasticamente a
quantidade de papel trocado e o contato humano na cadeia.
No atual cenário que o mundo compartilha, cada dia se torna um novo
desafio. O compromisso e a responsabilidade de todos é o que nos fará
superar as dificuldades impostas por este inimigo invisível.
Eu acredito
que se todos nós fizermos esforços dentro das nossas esferas de
influência iremos proteger não apenas a cadeia logística de alimentos
como também muitas vidas e com certeza sairemos dessa mais fortes e com
muitos aprendizados.
Mas também, a crise pode ser uma oportunidade única
para repensar a cadeia inteira, redefinindo processos e priorizando
tecnologias que possam aumentar eficiência, dar uma experiência melhor
para os motoristas nas jornadas, aumentar a visibilidade na cadeia para
embarcadores e proteger todos da próxima crise.
Charlie Conner é co-CEO da Sotran Logística.