Com registro no Guinness Book, o livro dos recordes, o Íbis Sport Club ganhou a alcunha de pior do mundo após três anos e onze meses sem vencer, tomando goleadas de nove, dez gols, nos anos de 1980 – o que se tornou brincadeira na imprensa, entre os amantes do futebol, e passou a fazer parte do folclore do esporte. A fama que acompanha o time de Pernambuco seguiu firme por quatro décadas. Como se manteve após tanto tempo? Vamos ver.
Furo numa jogada de bicicleta, jogador caindo sozinho ao tentar chutar, bola passando entre as pernas do goleiro, chute por cima do gol, embaixadinhas no vestiário que terminam com uma lâmpada estilhaçada. Estas são algumas das situações mostradas em vídeo estrelado por jogadores do time, iniciado com esta narração: “Esse é o Íbis Sport Club, o pior time do mundo. Ele tem o incrível recorde de 55 jogos seguidos sem vencer.” Criada pela agência Bold, a peça ganhou dois prêmios internacionais de marketing na 24ª edição do Festival El Ojo de Iberoamérica, ouro e prata, em categorias diferentes, estando à frente de produções de outros países, inclusive norte-americanas, e também brasileiras de grandes marcas.
A campanha, que apostou na irreverência e no bom humor, tem como conceito “Todo mundo pode jogar com os melhores do mundo. Até você”, divulgando o BetssonFC, um fantasy game de futebol produzido pela patrocinadora master do Íbis, responsável por mudar os rumos do time em 2021. A Betsson trouxe para a equipe a estrutura financeira que esta não teve em mais de oitenta anos e tornou possível, neste ano, a conquista do acesso à série A do campeonato pernambucano.
O Pássaro Preto, como o time é conhecido, era formado por jogadores que entravam em campo somente pela paixão por futebol; não recebiam apoio financeiro, exerciam outras profissões para sobreviver, não tinham estrutura para treinos nem tempo disponível para concentração, vivendo uma realidade muito distante de outros times pernambucanos – pelos quais o Íbis era derrotado de goleada.
E foi exatamente a fama de pior time do mundo – mantida através dos anos e gerando buzz e engajamento constante de amantes do futebol nas redes sociais – que atraiu o interesse da Betsson em assumir o patrocínio master da folclórica equipe pernambucana.
Não só na campanha pela Bold, mas no decorrer das décadas, o Íbis alimentou o que seria algo extremamente negativo como um diferencial. E quem melhor fez isso foi Mauro Shampoo, conhecido como o camisa 10 do pior time do mundo. Exibindo sua famosa cabeleira inspirada em Maradona, baixinho, de humor irreverente, ele aparece à beira do campo no vídeo premiado no festival.
Tema de filme e música, em várias reportagens, Mauro fala de seu orgulho pelo time e por sua trajetória, pois foram os anos como jogador do Íbis que o tornaram figura pública, trouxeram fama e mesmo retorno financeiro, a partir da curiosidade gerada em torno dele e do próprio Íbis, alavancando sua carreira como cabeleireiro – ele mantém um salão com decoração temática de futebol, onde recebe inclusive personalidades.
Tanto o Íbis como Mauro Shampoo transformaram fraquezas em vantagens, assumiram o que era apontado como defeito enquanto características peculiares, diferenciais que, ao invés de serem escondidos, passaram a ganhar visibilidade e gerar resultados positivos.
Um perfeccionista pode travar processos que requeiram celeridade, mas ser a pessoa ideal para atividades minuciosas. Alguém introspectivo, que prefira rotina e maior isolamento, não se dará bem fazendo algo que exija constante interação e comunicação mais expansiva, mas poderá realizar com grande tranquilidade e excelência funções que vá desempenhar sozinho, em home office, por exemplo, e seriam torturantes para um profissional com perfil oposto. Você conhece seus pontos fortes e fraquezas? Comece a pensar o que é possível subverter.