“Desde que descobrira – mas descobrira realmente com um tom espantado – que ia morrer um dia, então não teve mais medo da vida, e, por causa da morte, tinha direitos totais: arriscava tudo”.
“Experimento viver sem passado sem presente e sem futuro e eis-me aqui livre”.
“Gostar de estar vivo dói”.
Nesta quinta-feira, 10 de dezembro de 2020, o Brasil comemora o centenário de uma das personalidades mais importantes da arte, da literatura, da cultura nacional: a ucraniana naturalizada brasileira Clarice Lispector. Autora de 18 livros, incluindo romances, novelas, contos e crônicas, a escritora e jornalista, dona de um estilo literário considerado muitas vezes difícil, se tornou neste século, curiosamente, uma das frasistas mais citadas do país.
Embora vários dos textos que circulam pela internet com seu nome sejam menções apócrifas falsamente atribuídas a ela, trechos reais de suas obras – como os reproduzidos acima – comprovam o apelo popular de suas reflexões existenciais, morais e afetivas. E essa popularidade se estende para os quatro cantos do planeta: com traduções para 32 idiomas, Clarice já foi publicada em 40 países, sendo a brasileira mais traduzida no mundo, reverenciada como um dos grandes nomes da literatura internacional. Uma de suas biografias, inclusive, foi escrita por um norte-americano, o escritor e historiador Benjamin Moser.
Os livros da autora são atualmente publicados no Brasil pela editora Rocco, que por ocasião de seu centenário vem relançando, desde 2019, todos os volumes em novas edições, com projeto gráfico e conteúdos inéditos.
Entre outras ações para celebrar a data – e atender os leitores brasileiros e estrangeiros de Clarice -, o Instituto Moreira Salles (IMS) está lançando um site bilíngue (em português e inglês) para exibir fotos, áudios, vídeos, manuscritos e outras raridades que compõem o acervo da entidade dedicado à escritora. O IMS prevê ainda, para julho de 2021, a abertura da exposição Constelação Clarice, que mostrará a produção artística – em desenhos, vídeos, pinturas e esculturas – de mulheres contemporâneas à homenageada.
Falecida em 9 de dezembro de 1977, véspera de seu aniversário de 57 anos, em decorrência de um câncer de ovário, Clarice também recebeu hoje o título honorífico de Cidadã Pernambucana, concedido postumamente pela Assembleia Legislativa de Pernambuco, a pedido da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). A escritora, que passou parte de sua vida em Maceió (AL) e Recife (PE) antes de se mudar para o Rio de Janeiro (RJ), se dizia pernambucana, chegando a fazer várias referências à capital do Estado em obras como “Felicidade Clandestina” e “A Cidade Sitiada”.