O empreendedorismo pode chegar um pouco mais tarde na vida de algumas mulheres. Depois de anos dedicadas à iniciativa privada, as empreendedoras Bianca Ramos, Marisa Wakata e Fabiane Barroso encontraram a realização que buscavam ao se tornarem donas de seus próprios negócios. Apesar de atuarem como empreendedoras em segmentos bem diferentes, as três empresárias começaram a realizar o sonho empreendedor depois dos 35 anos.
No Rio de Janeiro, a chef confeiteira Bianca Ramos, de 45 anos, cresceu no meio de pães, doces e bolos da padaria do pai português e da mãe confeiteira, mas foi como administradora e representante comercial que ela passou maior parte da vida. O gosto da culinária foi por muitos anos apenas uma espécie de passatempo. Em 2011, após a chegada do seu segundo filho, ela enfrentou um câncer quando ele tinha apenas um ano e meio. Foi nesse período difícil, durante um encontro, que surgiu a oportunidade de fazer um bolo de laranja para as amigas. Foram vários elogios e por incentivo dessas amigas que ela começou a atender alguns pedidos. Três meses depois, Bianca já estava recebendo encomendas para rede de confeitaria e postos de conveniência.
No primeiro momento, ela enfrentou o preconceito dos familiares que não acreditavam que ela poderia largar a profissão para ser “boleira”. “Foi um momento de solitude em que eu tive que acreditar em mim mesma. Eu comecei apenas com investimentos pessoais e não quis envolver nenhum recurso que era da minha família. Eu aluguei um espaço de 17 m² e comecei a fazer mais de 200 bolos por semana com uma batedeira caseira que eu fiz algumas adaptações para bater até 12 kg de massa”, contou orgulhosa.
Nessa época, foi no Sebrae que ela encontrou o maior apoio que precisava. “A orientação do Sebrae foi fundamental nesse começo porque o negócio estava crescendo rapidamente”, disse. Depois disso, o irmão dela começou a ajudá-la também no negócio. Até que em 2018, após uma consultoria do Sebrae, ela decidiu focar o seu trabalho na confeitaria especializada em bolos e doces artesanais para festas e casamentos. “Eu cheguei a atender grandes redes de aeroportos e desenvolver receitas exclusivas, mas junto com a confeitaria eu descobri o que realmente era a minha vocação”, explicou.
Foi assim que nasceu a My Lovin Cake, localizada em Vargem Pequena, na capital carioca. Além do espaço para a produção, também funciona uma cafeteria. Durante a pandemia, a empresa conseguiu manter o ritmo de trabalho por meio da inovação com a criação de QR Code com mensagens de vídeo personalizadas. “A ideia surgiu em uma encomenda para uma amiga do meu filho que estava muito triste por não compartilhar os parabéns. Por meio do QR My Cake reunimos as mensagens de vídeos com os amiguinhos cantando parabéns para ela. Foi um sucesso”, comemorou.
Em São Paulo, a empreendedora Fabiane Barroso passou 17 anos trabalhando na área de marketing financeiro, mas sempre quis ter seu próprio negócio. A realização desse sonho só se tornou realidade em 2018, quando ela decidiu criar a marca de confecção infantil autoral Dona Travessura. Fabiane se autodenomina “eupresária”, pois ela cuida de tudo sozinha. Todo o processo de criação, modelagem e organização das coleções é feito por ela. Apenas a costura é terceirizada.
Mãe dois filhos pequenos, de 2 e 4 anos, ela trabalha em casa, na Zona Norte de São Paulo e conta que um dos grandes desafios é ser mãe e empreendedora. No ano passado, com a pandemia, a sobrecarga de responsabilidades trouxe momentos de estresse e uma crise de Bournout. “A realidade é que, como mãe, estamos sempre em uma corrida em desvantagem. Sabemos que 80% das tarefas domésticas ficam a cargo das mulheres e sempre temos que renunciar alguma coisa”, relatou.
Mesmo com todas as dificuldades da pandemia, a empresa que sempre atuou com vendas online, soube aproveitar a situação para dar um salto nas vendas. A empresária investiu na comunicação e conseguiu clientes em outros estados para fornecer em atacado. Apesar do ano ter começado um pouco mais devagar, ela tem boas perspectivas para o negócio. “Já estou produzindo a coleção de outono”, contou.
A vida de empreendedora chegou depois dos 45 anos para a fotógrafa Marisa Wakata. Antes disso, ela trabalhou por 20 anos na área de criação na iniciativa privada. Formada em Comunicação e Artes e atuação na área de design gráfico, o gosto pela fotografia era apenas um hobby. “Eu não estava feliz e comecei a sentir que eu havia chegado ao fim de um ciclo. Ao largar o emprego, eu demorei um pouco para me encontrar, mas eu já tinha feito alguns cursos de fotografia e, em 2016, comecei a atuar na área de gastronomia e festas”, compartilhou.
No primeiro ano como fotógrafa, ela aos poucos foi descobrindo com o que se identificava e escolheu o ramo da fotografia de família, que inclui bebês e gestantes. Na pandemia, Marisa teve que adiar alguns projetos de parcerias, mas aproveitou o tempo para atualizar o site onde apresenta seu portifólio. Também começou a fotografar mulheres empreendedoras, que como ela, precisavam de fotos para divulgar o trabalho na internet. “Consegui manter os contratos que já estavam fechados, pois muitas gestantes não quiseram perder o registro do momento e continuo com o meu trabalho indo na casa das pessoas, seguindo todos os protocolos de segurança”, explicou.
Morando sozinha e sem filhos, ela ainda se considera uma empreendedora iniciante. “Sei que estou apenas engatinhando, mas tenho aprendido bastante coisa, principalmente sobre como divulgar o meu negócio nas redes sociais”, disse. A maioria dos clientes dela vieram pelo Instagram e por indicação.