Por Eber Freitas e Raíza Pacheco
Dezenas de ciclistas enfileirados, vestindo capacetes e roupas coloridas, em bicicletas sinalizadas e com faróis, cruzando ruas e avenidas movimentadas. Para quem mora na cidade de João Pessoa, a cena é comum de presenciar. O ciclismo tem crescido como uma opção de atividade física na região, com diversos grupos que desbravam a cidade e fazem trilhas para praias e municípios vizinhos.
O Pedal do Dantas, comandado pelo motorista Luiz Dantas, de 64 anos, é um desses grupos. Criado em setembro do ano passado, a turma nasceu pequena, com 4 pessoas, e hoje já reúne mais de 300 ciclistas em dois grupos de Whatsapp, onde os participantes combinam trilhas e trajetos. O crescimento rápido do grupo se deve ao aumento de pessoas que têm procurado uma nova atividade física. “Somos um grupo para formação de novos ciclistas, e a maioria são mulheres que estão iniciando depois da pandemia”, conta Dantas. Mesmo com muitos iniciantes, o grupo chega a reunir 50 ciclistas nos sábados.
A administradora Adriana Fialho, de 52 anos, escolheu o ciclismo como uma das maneiras para se manter ativa, depois de parar com as atividades físicas no período de isolamento social. Antes receosa com a prática, por medo dos carros nas ruas, Adriana encontrou no esporte uma maneira divertida de conhecer novos lugares da cidade, e lidar com sua ansiedade. Ela começou a pedalar em fevereiro, e já vê o quanto a atividade é positiva para sua rotina. “Sou uma pessoa muito agitada, e o exercício físico me ajuda muito. Às vezes estou em casa e começo a sentir mil coisas, sinto muita ansiedade. Saio com a bicicleta e quando volto pra casa me sinto muito melhor”, diz Adriana.
A literatura médica que comprova os benefícios do exercício físico para a saúde mental e bem-estar é vasta. Pesquisas desenvolvidas em universidades e institutos de todo o mundo indicam que a prática de exercício físico traz melhorias no humor, energia, memória e atenção. A professora e pesquisadora Wendy Suzuki, do departamento de Neurociência e Psicologia da Universidade de Nova York, investiga a relação entre o exercício físico e o cérebro e é categórica: a atividade física “é a coisa mais transformadora que você pode fazer pelo seu cérebro”. “O simples ato de movimentar o corpo traz benefícios imediatos, duradouros e protetores do cérebro, que podem durar pelo resto da vida”, afirma a pesquisadora em seu TED Talk Os benefícios do exercício no cérebro.
Além da pedalada, Adriana ainda participa de aulas aeróbicas promovidas pelo Programa Saúde em Movimento, da Prefeitura de João Pessoa. O projeto, que é gratuito e acontece em diversas praças da cidade, reúne grupos diariamente para aulas ao ar livre, com um professor de educação física. Adriana diz que “não pretende ser atleta”, mas gosta de uma rotina com grupos e exercícios diferentes para conhecer novas pessoas, e evitar o ganho de peso.
A preocupação com fatores estéticos também é um dos motivos que levam à busca de hábitos mais saudáveis, mas profissionais de educação física têm adotado uma visão mais ampla na hora de trabalhar com seus clientes. De acordo com a personal trainer Iris Costa, emagrecimento e hipertrofia, mesmo quando são objetivos declarados, não devem entrar na frente da saúde. “Hoje, mais do que nunca, devemos enxergar a atividade física de forma ampla. Os benefícios são inúmeros, e temos que abraçá-los de uma forma geral. Saúde, estética e aspectos psicológicos andam de mãos dadas como objetivos a serem alcançados pelo profissional de educação física”, diz Iris.
No objetivo de manter uma rotina mais ativa, a tecnologia também ajuda. A social media Indira Petit, de 34 anos, leva a sério o exercício físico como parte de sua vida. Além de buscar mais energia para o trabalho (que envolve passar muitas horas sentada) e definição em seus músculos, ela precisa de atividade física para fortalecer sua coluna, e evitar dores causadas por uma atrofia paravertebral.
“Eu me exercito 6 vezes por semana, fazendo musculação, cardio e yoga. Minhas atividades, até em descanso, são monitoradas por uma pulseira inteligente, assim eu tenho uma ideia do resultado alcançado, se atingi meu objetivo diário, se passei muito tempo parada ou sentada durante o dia. É sempre um incentivo para me movimentar mais”, diz Indira.
A personal trainer Iris Costa conta que aplicativos de monitoramento também auxiliam no trabalho no seu trabalho como professora. “O uso de app de monitoramento durante a aula nos permite otimizar o treinamento e ajuda muito no desempenho do aluno, é um grande benefício para meu trabalho de assessoria”, afirma.
Exercícios físicos auxiliam na prevenção de doenças
Assim como na busca por mais energia, disposição e bom humor, o exercício também tem papel fundamental na prevenção de doenças. Algo que, para muitas pessoas, ficou mais claro depois da pandemia de covid-19.
A nutricionista Neusa Lygia, que atende em João Pessoa há 9 anos, afirma que tem notado uma maior busca por acompanhamento nutricional depois da pandemia. “As pessoas estão buscando aprender mais sobre uma alimentação mais saudável”, conta Neusa. É um movimento também visto pela personal Iris Costa: “É notável que as pessoas têm se preocupado mais com a saúde. Também é uma consequência das atitudes dos médicos, que passaram a indicar a atividade física durante a pandemia como uma prevenção a casos mais graves”.
A pandemia, e o medo de desenvolver um quadro grave de Covid em caso de contaminação, foi o motivo para a mudança de vários hábitos do estudante Fernando Machado, de 28 anos. Com reeducação de hábitos alimentares e exercícios físicos, ele perdeu mais 50kg nos últimos dois anos. Embora já tivesse tentado mudanças em seu estilo de vida em outras ocasiões, não conseguia manter a constância. Até que veio a virada de chave. “Eu já estava com pressão alta, gordura no fígado, cansaço. E com a Covid eu vi que precisava mudar porque eu sabia que se pegasse a doença, no estágio que eu estava, poderia ser muito ruim”, conta.
O cardiologista Hélio Matheus Lisboa explica que o exercício físico é essencial no contexto de um estilo de vida saudável e prevenção de doenças. “A principal causa de morte no mundo hoje é a doença cardiovascular (Infarto e AVC), que é causada pela formação de placas de gordura nas artérias do nosso corpo. Existem diversos fatores que favorecem a formação dessas placas, entre eles, a pressão alta, o diabetes, o colesterol elevado e o sedentarismo. É aí que entra a importância do exercício físico. Através desta prática, combatemos a maior parte destes fatores”, afirma o médico. E ele confirma a preocupação trazida pela Covid-19: ”A pandemia chamou a atenção para que, mesmo com a grande miríade de opções de medicamentos e procedimentos atuais, manter hábitos de vida saudáveis é nossa maior defesa”.
Com novos hábitos e fora da “zona de perigo”, o estudante Fernando Machado diz que sua jornada de dois anos foi complexa, mas não pretende mudar sua rotina saudável. “Hoje eu não me vejo sem treinar, já faz parte de mim. É mais do que levantar ou empurrar peso, é aquela sensação de superar a cada dia. Eu aprendi a gostar do processo”, comemora.