Com o avanço do setor de cannabis no mundo e com as suas altas projeções financeiras no Brasil, é provável que esse mercado se expanda rapidamente nos próximos anos, principalmente no âmbito medicinal, que já é legalizado no país desde 2015 e que pode atrair até US$ 15 bilhões em dez anos, de acordo com análise da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann).
Entretanto, apesar de ser um setor muito promissor e com muitos benefícios para a população, como todos os outros, ele também possui muitas barreiras a serem enfrentadas.
Atuante no segmento de cannabis medicinal, a farmacêutica Remederi elencou os cinco maiores pontos positivos e negativos desse mercado no Brasil. Confira:
Pontos positivos
1) Ciência enraizada: um dos grandes pontos positivos da forma como o Brasil iniciou sua regulamentação é que a ciência e a medicina têm uma força e relevância muito grandes, e continua a ter sua importância para basear a regulamentação do país sobre o tema.
“Para alguns, essa questão pode não ser tão favorável, mas eu vejo com bons olhos, pois já vi muitos colegas médicos no exterior, em locais onde o uso da substância está completamente liberado, alegarem não ter tanto acesso a produtos com qualidade farmacêutica comprovada, como acontece no Brasil”, comenta Fabrizio Postiglione, fundador e CEO da Remederi.
2) Potencial agrícola: outro ponto positivo do Brasil neste mercado é que o país tem um alto potencial agrícola e clima ideal para o cultivo de qualquer planta, com biomas desde semitemperado a tropical, níveis de insolação e abundância de água, o que facilitaria a produção nacional de cannabis.
3) Credibilidade da Anvisa: uma das vantagens do mercado brasileiro para a comercialização e atração de investimentos no setor de cannabis medicinal é que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é uma organização reconhecida em todo o mundo, o que traz credibilidade para os produtos registrados e produzidos no país. Produtos brasileiros teriam entrada facilitada em outros mercados por este motivo.
4) Estudos com novas moléculas: mais um ponto forte para o mercado é que novas moléculas presentes na cannabis ainda estão sendo estudadas e podem apresentar novas possibilidades para o mercado, como é o caso do tetrahidrocanabinol (THC), cannabigerol (CBG), canabinol (CBN), entre outros compostos.
5) Interesse de novas indústrias: recentemente, novos setores começaram a se interessar pela cannabis medicinal, como o mercado veterinário e a indústria têxtil, por exemplo, o que amplia o leque de oportunidades para o país.
Pontos negativos
1) Lenta evolução das políticas a respeito do tema: apesar de alguns países já terem flexibilizado ou regulamentado a produção e comercialização da cannabis, o governo brasileiro possui uma certa resistência sobre esse debate, o que dificulta e atrasa a regulamentação e ampliação do mercado no país.
2) Restrição de mercados: para a Remederi, o mercado brasileiro apresenta um foco 100% farmacêutico e medicinal humano, que acaba dificultando o acesso a produtos à base da substância em outros setores, como o de pets.
3) Preconceito: o preconceito é um dos maiores fatores que dificultam o avanço da cannabis medicinal no Brasil, pois as pessoas associam muito o uso do medicamento com o uso adulto da planta, e por falta de conhecimento ou acesso a informação não sabem que o tipo de produção e comercialização das substâncias são completamente distintos.
4) Alto custo de início da produção: as regras do cultivo implementadas atualmente no país são extremamente exigentes e limitantes, e aumentam o preço da sua produção, principalmente no caso do uso medicinal.
5) Divulgação científica: existem milhares de pesquisas sobre os benefícios da cannabis medicinal para o tratamento de diversas patologias, como ansiedade, insônia, dor crônica, epilepsia, autismo, Alzheimer, Parkinson e outras doenças, mas que ainda não chegam à classe médica.
“Apesar de o Brasil ser um dos maiores países pesquisadores da planta, a classe médica e científica do país ainda desconhece o potencial terapêutico da planta, e por vezes nem sabe que já é possível que qualquer médico possa prescrever derivados dela. É claro que isso é um gargalo, e pode também ser visto como uma oportunidade. Tudo depende do ponto de vista”, afirma Fabrizio Postiglione.