Quando assisti ao filme “A Rede Social”, que é baseado na criação do Facebook, uma das partes que mais chamou minha atenção foi a cena do jantar onde participavam Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), Eduardo Saverin (Andrew Garfield) e Sean Parker (Justin Timberlake).
A grande discussão entre Zuckerberg e Saverin era a mesma que muitas startups têm nos dias de hoje: quando monetizar? E a sugestão de Sean Parker foi que monetizar com anúncios no início do negócio seria como terminar uma festa legal às 22h.
Esse é um problema que atinge a maior parte das empresas que conheço. A premissa do funcionamento de um negócio é que ele tenha uma quantidade de receitas que lhe permitam pagar suas obrigações com seus funcionários e possam investir em patrimônio como computadores, imóveis, aplicações financeiras, filiais etc.
O WhatsApp foi fundado em 2009 e, sem gerar praticamente nenhuma receita, foi vendido para o Facebook cinco anos depois por 16 bilhões de dólares. Veja bem: a empresa era um verdadeiro ralo de recursos financeiros. Durante cinco anos foram investidos milhões de dólares em pessoas, computadores, servidores e softwares sem gerar praticamente nenhuma receita. Como pode uma empresa que tem prejuízos de milhões de dólares valer tanto dinheiro?
A resposta: tendo usuários. A partir do momento em que a empresa possui milhões de usuários que geram quantidades imensas de dados, você pode conhecê-los a fundo e pensar em formas de oferecer serviços que façam sentido para eles. Aí, sim, é hora de gerar receitas. Há uma frase no mercado de inovação e tecnologia que diz que “dados são o novo petróleo”.
Após 10 anos dando prejuízos, mas crescendo a sua base de dados exponencialmente, o WhatsApp finalmente lançou um produto que provavelmente irá lhe gerar bilhões em receitas, facilitando ainda mais a vida do usuário. Muitas pessoas fazem vendas por WhatsApp, conversando com seus clientes, mandando fotos dos produtos, negociando preços e condições. E quando o negócio é fechado, cria um boleto, manda um link para pagamento com cartão de crédito ou envia os dados bancários para depósito.
Agora, esse processo ficará mais simples: fechado o negócio, o vendedor manda uma cobrança para o comprador que, com apenas poucos toques, irá autorizar a transferência, que será feita de forma automática, com a cobrança de uma taxa de serviço das contas empresariais (contas pessoais serão grátis). E o mais interessante: isso é lançado exatamente em um momento de crise sem precedentes, onde as pessoas buscam novas e melhores alternativas para suas necessidades. Demonstrando que as crises são, sim, aceleradoras das mudanças que podemos.
Nos últimos projetos de que participei, sempre fui embaixador desse modelo de negócios e dizia: “Vamos oferecer os nossos produtos gratuitamente, aumentar a nossa base de clientes, conhecê-los e depois criar formas de monetizar” – e sempre fui voto vencido.
No Brasil, é muito difícil encontrar investidores dispostos a fazer aportes de muito dinheiro, durante muito tempo, em algo que tem a geração de dados como seu maior objetivo, por uma série de motivos que merecem um artigo específico.
Voltando à analogia do petróleo: primeiramente, as empresas devem extrair o petróleo do solo, mas ninguém compra petróleo bruto. Com o petróleo bruto em mãos, se entende quais derivados deverão ser produzidos para atender às necessidades dos clientes.
E na tecnologia não é diferente. Primeiro, as empresas investem na extração de dados para depois interpretá-los e entender quais produtos fazem sentido para os clientes. E as maiores empresas do mundo (Google, Facebook, Amazon etc.) estão aí para provar que esse modelo não somente funciona, mas é o que dá os melhores retornos nos dias de hoje!
* Bruno Dreher é futurista pela Universidade Hebraica de Jerusalém, com o curso de inovação e futurismo mais prestigiado do mundo, e já exerceu cargos de liderança em grupos de educação como Grupo A e Escola Conquer.