Uma semana após o anúncio de que os conteúdos com nudez explícita e pornografia seriam banidos da plataforma a partir do dia 1º de outubro, o site de conteúdo por assinatura OnlyFans voltou atrás: através do Twitter, informou aos usuários que “suas vozes foram ouvidas” e que foram obtidas as garantias necessárias para apoiar sua diversificada comunidade de criadores.
As mudanças políticas haviam sido exigidas pelos bancos e empresas que intermedeiam as transações financeiras entre os usuários da plataforma. No entanto, a repercussão na internet foi imediata e bastante negativa, afinal, só no ano passado, o site registrou um boom de 553% de crescimento em relação à receita do ano anterior e alcançou a marca de 130 mil usuários. Resultado: os lucros saltaram de R$ 42 milhões para R$ 371 milhões e não foi só a empresa que cresceu. Atualmente, mais de 300 criadores já faturaram mais de R$ 7 milhões com a venda dos seus conteúdos.
OnlyFans e o efeito serendipity
Criado em 2016 pelo empresário Tim Stokely, com sede em Londres, o OnlyFans foi pensado para influenciadores digitais e artistas independentes ofertarem seus conteúdos de forma paga, basicamente o que outras redes sociais já fazem sem cobrar. A empresa fatura com a cobrança da hospedagem do material, retendo uma parcela de 20% de todos os pagamentos. O OnlyFans dispõe de dois sistemas de acesso, um avulso no qual o usuário paga de forma antecipada por determinado conteúdo (o famoso pay-per-view) e a assinatura mensal, que permite acesso a materiais exclusivos.
Mas por que alguém paga pelo que poderia obter de graça? Aí é que começa o sucesso da plataforma. Primeiro, porque facilita o fornecimento de conteúdos exclusivos e a monetização das criações. Segundo, porque com as restrições impostas pela transação comercial os conteúdos adultos podem ser disponibilizados com maior controle de quem os acessa, atraindo criadores e consumidores desse crescente nicho de mercado.
Ou seja, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, o OnlyFans não nasceu assim e não é uma rede social em que se paga para ofertar ou acessar conteúdo exclusivamente pornográfico ou de nudez explícita. Porém, e especialmente durante a pandemia, foi esse o conteúdo que fez com que a empresa crescesse exponencialmente, tornando-se o carro-chefe do negócio, e permitiu aos seus criadores faturarem alto a partir dos vídeos, fotos e textos disponibilizados por valores que vão de R$ 10,00 a R$ 250,00.
O sucesso também aumentou a partir da adesão de artistas já consagrados, como Anitta, que ingressou na plataforma colocando à venda um vídeo em que mostra sua tatuagem numa região íntima do corpo. A título de curiosidade, a artista já faturou R$ 7 milhões apenas com essa publicação.
Dessa vez, o cliente venceu
Assim como o OnlyFans, o Tumblr e o PornHub também tiveram que recuar e tomaram medidas drásticas após sofrerem ameaças de desmonetização. No caso do Tumblr, que retirou todo o conteúdo porn, a leniência do serviço com conteúdos criminosos também foi incisiva na decisão. E o PornHub passou a exigir verificação dos criadores, restando lá basicamente as produtoras independentes.
A lição que o caso deixa é a de que o seu produto é que precisa se adaptar ao cliente. O cliente não se adapta ao seu produto, ele vai em busca de quem oferta aquilo que ele deseja. Particularmente, em relação a produtos e serviços tão singulares quanto este.