Uma nova pesquisa sobre assédio moral e sexual no trabalho revela que os desvios de comportamento cresceram ainda mais depois da pandemia e o número tende a continuar subindo.
De acordo com o levantamento, realizado pela consultoria de gestão de riscos e compliance ICTS Protiviti, somente no primeiro semestre deste ano os relatos de abuso moral e sexual já registram a marca de 31 mil denúncias. Desse total, 91,8% são qualificadas para apuração. Esse número, que envolve 347 empresas, representa quase o triplo de casos de 2019 e de 2020, que alcançaram a marca de 12.349 e 12.529, respectivamente, sendo os anos com o maior volume de registros. Em 2016, esse total representava 4.367 denúncias.
No início de 2020, a quantidade de ocorrências seguia uma crescente de aproximadamente 33% se comparada ao mesmo período do ano anterior. Em abril, logo no início da pandemia da Covid-19, o cenário de incerteza e insegurança, somado ao auge das ações de isolamento social e de uma adaptação ao trabalho remoto, resultou numa queda drástica no volume de assédio moral e sexual de quase 50%. Essa retração, porém, durou pouco tempo; os casos voltaram a patamares anteriores à descentralização dos escritórios e depois aceleraram, atingindo números inéditos.
“Entendemos que este aumento está relacionado à falta de limites da gestão em relação à suposta alta disponibilidade do colaborador, que passou a ser acessado a qualquer momento, excedendo sua carga horária diária justamente por estar em home office. Este cenário replicado em inúmeras operações certamente colaborou para esse aumento no volume de denúncias”, explica Fernando Scanavini, diretor de operações da ICTS Protiviti.
O executivo também comenta que os assediadores encontraram mais liberdade no ambiente virtual para promoverem suas práticas de abuso, visto que a privacidade de trabalhar em casa limita demais colaboradores a presenciarem atos inconvenientes. “A imposição do uso de câmeras, por exemplo, nos contatos virtuais pode ter corroborado com essa questão. Exigir o uso pode configurar como assédio moral quando a pessoa não quer abrir a privacidade de sua residência. Por outro lado, também pode facilitar o assédio sexual”, comenta Scanavini.
Dos 31 mil registros classificados para análise técnica e apuração, 37,8% são procedentes e 9,8% são inconclusivos. Além disso, 75,4% das denúncias foram anônimas. Dessas, 53,3% são realizadas por mulheres e 46,7% por homens. A maioria das denúncias, ou seja, 91,6%, são feitas por colaboradores e grande parte dos denunciados, 87%, são gestores e líderes.