Médicos da Grande Recife, em Pernambuco, acenderam a luz de alerta diante do crescimento de casos de Síndrome Multissistêmica Inflamatória Pediátrica (SMIP) na região. Nesta segunda-feira (31) o governo estadual confirmou o 10º caso da doença, que acomete apenas crianças, é rara e tem sido diagnosticada em pacientes que testaram positivo para a covid-19.
Ainda se sabe muito pouco sobre a correlação entre a síndrome e o novo coronavírus. Ao todo, foram registrados 200 casos no mundo. No Brasil, além de Pernambuco, pelo menos Rio de Janeiro e Paraíba também notificaram ocorrências.
Reação tardia ao coronavírus
Até agora, os pesquisadores têm percebido que a doença se manifesta como uma espécie de reação tardia e exagerada ao sars-cov-2, vírus causador da covid-19. Muito parecida com a síndrome de Kawasaki, a SMIP é caracterizada por uma inflamação sistêmica do organismo e seus principais sintomas são: febre, dor abdominal, conjuntivite, manchas no corpo, vermelhidão na sola dos pés e na palma das mãos e manifestações gastrointestinais, como diarreia e vômito.
Em Pernambuco, os primeiros casos foram recebidos como suspeitas de apendicite, pelas características. Mas a evolução dos casos e exames mais detalhados levaram ao diagnóstico de SMIP.
O ciclo da doença
Os primeiros sintomas da SMIP costumam aparecer cerca de 4 semanas após o pico da covid-19. A partir daí pode evoluir rapidamente para inflamações incapacitantes e até a morte.
No Rio de Janeiro há registros de três óbitos, segundo a Secretaria de Saúde. Em Pernambuco foi registrada uma morte.
Dúvidas
Os mistérios em torno da doença são muitos. Primeiro, ninguém sabe ainda porque ela atinge apenas crianças. Outro ponto intrigante é que não há casos na Ásia, o que tem levado cientistas a levantarem a hipótese de que haja algum componente genético relacionado. Os primeiros registros surgiram na Europa e América do Norte. Mais recentemente foram relatadas ocorrências na América Latina.
Assim como a própria covid-19, a forma como a SMIP acomete os pacientes também é muito diversa, principalmente devido à sua ampla variedade de sintomas, o que dificulta ainda mais o diagnóstico. Estudos preliminares sugerem que as crianças que evoluem para estados mais graves geralmente têm problemas preexistentes de cunho imunológico.
Volta às aulas
Uma das primeiras medidas adotadas pelos governos para conter a pandemia foi suspender as atividades escolares. Esse, inclusive, é considerado um dos motivos pelos quais a covid-19 tem baixa incidência nos pequenos. Com as discussões sobre retomada, cientistas levantam o risco de uma explosão de casos da doença e, consequentemente, aumento nos registros de SMIP.
Um estudo da Fiocruz divulgado no mês passado mostrou que a retomada das aulas pode fazer a curva da pandemia voltar a crescer, atingindo agora justamente as camadas mais jovens da população.