Pareceque foi ontem que a Netflix nos apresentou ao streaming epraticamente sepultou dois pilares do consumo de filmes e séries nomundo: a TV a cabo (a versão legal da história) e a pirataria (quealimentou consumidores durante anos e dificultou bastante a vida daindústria). Com preço baixo e um acervo imenso, permitindo que osclientes assistissem quando, como e onde quisessem, parar, voltar,avançar, baixar para ver offline, a empresa reinventou o mercado.Durante alguns anos desfrutou a tranquilidade reservada aospioneiros. Mas a vida boa acabou e agora nos vemos na iminência deum novo cenário repleto de concorrentes que vão nos empurrar paraum de dois caminhos possíveis: escolher uma plataforma para chamarde nossa ou ter várias assinaturas ao mesmo tempo (o que é maisprovável e, na prática, vai ser uma versão turbinada da boa evelha TV a cabo).
O sistematradicional de TV a cabo está com seu fim decretado, não tenhadúvidas. Os próprios canais estão criando seus streamings(Telecine Play, HBO Go, Globoplay) e até mesmo as operadoras estãoseguindo o fluxo (Now e Claro Vídeos, por exemplo). Mas éinevitável vislumbrar no futuro algum serviço que ofereça aoconsumidor final em um único pacote várias assinaturas. E aí vocêpergunta: por quê? Vamos, então, a algumas respostas:
Ninguémvai querer ficar por fora
Vocêestá aí feliz da vida com sua Netflix. Viveu só com ela durantealguns anos. Mas de repente seus amigos começaram a falar sobre umatal série O Homem do Castelo Alto. Depois vieram falar sobre GoodOmens, The Boys, The Marvellous Mrs Maisel e por aí vai. Você foiprocurar e não tem nenhuma na Netflix. Não, não tem, sãoexclusivas do Amazon Prime. Hein? Mas o que é isso? Ano passado erasó um serviço desconhecido no Brasil. Hoje é o concorrente maisforte da Netflix e muito provavelmente você vai encontrar váriosamigos dizendo que é até melhor. E agora: largar a Netflix eassinar o Prime? Ficar com as duas? Prepare-se, porque essa é umapergunta que você vai se fazer muitas vezes nos próximos anos. Nãoé só a Amazon que está tirando o sono da Netflix. Disney e Appletambém já apresentaram suas armas.
Você vaificar com saudades de só mudar o canal
Osclientes vão desejar ver filmes e descobrirão que eles sãoexclusivos de determinadas plataformas. Na TV a cabo, bastava mudarde canal. No streaming é diferente. Tem que assinar uma por uma.Tecnicamente, com todas as contas conectadas, “trocar de canal”nem é tão complicado. Mas pagar individualmente cada serviço podeacabar criando uma conta maior que a assinatura da TV.
Alguémvai ser esperto
Nomercado, ninguém perde tempo dormindo. Pode ter certeza de que nestemomento já tem gente pensando em como construir algo no futuro capazde unir em uma única conta todas as assinaturas, com condiçõesmelhores do que as conseguidas assinando individualmente efacilitando sua vida. E isso não vai ser nada novo: vai ser uma “TVa cabo do streaming”, com as vantagens funcionais às quais nosacostumamos depois da Netflix
Masexiste outra versão dessa história
Nãosabemos se existem tantos finais possíveis para essa históriaquanto no multiverso do Doutor Estranho, mas pelo menos um outrodesfecho é possível. Toda a análise acima tem um furo: olha apenaspara as alternativas legais, pressupondo que vamos nos manter bemcomportados, consumindo tudo apenas através dos streamings oficiais.Mas a verdade é que a pirataria é sempre um urubu à espreita najanela da indústria. Se o mercado bobear, vai se ver em apurosnovamente. Se o mundo vai voltar ao cenário da era da TV a cabo, ascondições que geraram a pirataria, pelo menos em tese, estarãopostas na mesa novamente, correto? Quem viver, verá.