O escritor norte-americano John Hollis está no centro de estudos realizados por pesquisadores dos Estados Unidos para descobrir novas maneiras de combater o novo coronavírus e desenvolver vacinas ainda melhores contra a doença.
É que, de acordo com uma reportagem da BBC News, cientistas descobriram que o homem de 54 anos apresenta anticorpos tão potentes que o impedem de contrair a Covid-19. “Essa tem sido uma das experiências mais surreais da minha vida”, declarou Hollis, que descobriu sua imunidade ao Sars-CoV-2 após se voluntariar em uma pesquisa sobre o vírus no local onde trabalha, a Universidade George Mason, na Virgínia (EUA).
Ele já havia dito ao médico Lance Liotta, professor da instituição, que um amigo com quem morava tinha contraído a infecção em abril do ano passado, evoluindo para um quadro grave, mas não o contaminou. “Por duas semanas eu esperei a doença me atingir, mas nunca aconteceu”, relatou.
Os estudos liderados por Liotta constataram, então, que Hollis, de fato, teve o organismo invadido pelo coronavírus, mas seus anticorpos o protegeram da infecção por agirem diferentemente dos sistemas de defesa da maioria das pessoas – os quais costumam atacar especificamente as proteínas das espículas do vírus, que o ajudam a contaminar as células humanas. Os superanticorpos de Hollis eliminaram rapidamente o Sars-CoV-2 ao atacar várias partes de sua estrutura simultaneamente, demonstrando eficácia até mesmo contra novas variantes.
“Você poderia diluir os anticorpos dele em 1 para mil e eles ainda matariam 99% dos vírus”, afirmou Liotta, que também investiga outros pacientes com o mesmo desempenho. “Eu sei que não sou a única pessoa que tem anticorpos assim, sou apenas uma das poucas pessoas que foram encontradas”, avaliou Hollis, que, como homem negro, destacou a importância de participar desse tipo de pesquisa, lembrando as vítimas do estudo de sífilis de Tuskegee, no Alabama (EUA).
O experimento, desenvolvido ao longo de mais de 40 anos pelo governo norte-americano, envolveu afro-americanos que tinham sífilis e foram estudados sem receber, porém, os medicamentos que se tornaram disponíveis para combater a doença. Trata-se de um episódio apontado como uma das razões pelas quais parte da população negra do país costuma recusar participar de pesquisas científicas do gênero.
“Nós devemos honrar aquelas pessoas, as vítimas do estudo de Tuskegee, através do envolvimento em um processo para garantir que aquilo não aconteça de novo. E também para salvar vidas, especialmente na comunidade afro-americana, que tem sido fortemente atingida pela pandemia”, defendeu Hollis.