Em todo o mundo, mais de um bilhão e meio de estudantes tiveram sua escola fechada por conta da pandemia de Covid-19, de acordo com números da Unesco. Emergencialmente, muitas instituições adotaram o ensino a distância, mostrando diversos problemas e oportunidades desse sistema de aprendizado. Com isso, a tendência é que o EAD ganhe muita força no mundo pós-pandemia, mas passará por algumas adequações.
O ensino a distância já era uma realidade no Brasil, principalmente em nível superior. Um levantamento de O Globo mostrou que existem 138 cursos superiores com opção de EAD na rede privada do país. Destes, 68 já possuem mais estudantes matriculados na modalidade a distância do que na presencial. Ainda assim, a quantidade de estudantes a distância no ensino público é muito inferior.
O crescimento do ensino a distância privado no Brasil acabou fazendo com que o lado mercadológico falasse mais alto do que o educacional em alguns casos. Para que a consolidação do EAD aconteça de vez, essa situação deverá ser revertida.
Isso abre caminho para uma futura possibilidade do EAD: a sua consolidação também na rede pública. Atualmente, 57% dos estudantes brasileiros do Ensino Médio estão tendo aulas a distância. Este número abrange também as escolas particulares, mas é composto majoritariamente pelas públicas. Adequar os métodos do ensino a distância para esse novo público não é fácil, já que o EAD exige disciplina e maturidade – algo que naturalmente falta nos estudantes secundaristas.
Para preencher essa lacuna, o EAD deverá apostar em métodos diferenciados, como a gamificação, ou seja, a criação de um sistema de recompensas parecido com o dos jogos. Assim, é possível melhorar o trabalho em equipe, mesmo a distância, estimulando a criatividade dos estudantes.
Além disso, será necessário estimular a interação entre os alunos, criando espaços de conversas e discussões. Hoje em dia, já existem ferramentas desse estilo no ensino a distância, mas para abranger um público maior, elas deverão ser repensadas e redesenhadas pensando mais nos estudantes.
Um dos desafios para as instituições de ensino a distância é encontrar uma maneira de adotar a inteligência artificial para auxiliar em seus processos, mas sem desumanizar a educação. Recentemente, uma rede de universidades privadas foi descoberta utilizando AI na correção das provas, fingindo que o trabalho era feito por professores. O acontecimento gerou polêmicas e levantou esse debate.
Para Luiza Ferreira, engenheira da computação e especialista do site TechReviews, as instituições terão dificuldades para encontrar esses limites, pois mesmo que a inteligência artificial traga inúmeros benefícios em diversos processos, no segmento da educação ele pode soar desumano e desestimular os estudantes que pretendem realizar um curso a distância. “Atualmente, é impensável criar um atendimento por chatbot que consiga tirar as dúvidas dos estudantes de maneira eficaz, pois isso é muito subjetivo e a inteligência artificial trabalha com dados concretos”, afirma.