2021 começou com o mercado de M&As, investimento, IPO’s e Exits aquecido. E, quando falamos de forma isolada de um ‘exit’ de um founder/executivo, não se trata ‘apenas’ da saída dele da empresa, mas, principalmente, sobre sua trajetória e da sensação de missão cumprida, adquirida em grande parte das vezes. Mas, então, qual é o momento certo para um founder/executivo deixar a casa e buscar novos desafios? Foi esta a indagação que comecei a fazer ao longo do ano passado.
Olhando profundamente para esse processo, é possível analisar e perceber que o fenômeno não se aplica somente aos fundadores, mas, também, a repetidos movimentos nas posições de C-Levels de grandes companhias e nos parece que temos um motivo em comum: abrir caminho para que uma nova geração de CEOs tenham possibilidades de colocar a mão na massa e que os mais experientes se tornem parte do conselho. Na minha visão uma ótima oportunidade para que trocas muito ricas aconteçam.
A principal função de um CEO, na minha visão, é se tornar desnecessário para a companhia. Acredito que o momento correto para sair de cena é quando a sua janela de entregas para a empresa está concluída e assim ela consegue estar pronta para seguir sem sua presença. Isso está vinculado à construção de pilares sólidos dentro daquela comunidade/empresa que vai continuar gerando valor mesmo após a sua saída.
Eu brinco que o playbook que aplico nas empresas em crescimento e em processo de turnaround é tão transformador, forte e, às vezes, traumático, que o meu período máximo dentro de cada um desses novos negócios não pode e não deve durar mais que 24 meses.
Em dois anos, transformamos a NEWE na 6º maior empresa de seguros agrícolas do Brasil, com um faturamento de R$ 169 milhões. Depois desse grande sucesso, me sinto confortável em compartilhar alguns passos que podem ser úteis para executivos e empreendedores que também estão buscando essa virada de chave em seus negócios:
– Criar a cultura da empresa, fazer as pessoas terem orgulho de ser parte daquela comunidade. Não de família ou de time, mas da comunidade que se autoajuda, cresce em conjunto e tem as suas regras escritas ou mesmo somente veladas.
– Identificar e preparar os líderes do futuro. Se não estiverem na própria empresa, deve-se atrair e empoderar novos players para fazerem parte do processo de transformação da companhia. Além disso, é obrigação do líder deixar uma visão/luz do futuro. Se você não criar o produto que irá destruir a sua empresa, alguém o fará.
– Comece pelo coração da empresa. 80% das perguntas que precisam ser respondidas pelas empresas em processo de transformação estão dentro da área financeira. As respostas para essas perguntas, você irá encontrar dentro das áreas de origem da companhia e em suas ramificações (externas, inclusive), porém o melhor lugar para encontrar as perguntas corretas a serem respondidas está no “coração”: área financeira.
Esse padrão de estratégia é simples e replicável. Esse playbook pode ser aplicado em empresas dos mais diversos setores, resguardando ajustes e adaptações necessárias, dependendo do tipo de negócio que estivermos analisando. O mais importante é que o esqueleto e estrutura desse processo de virada é o mesmo e pode, facilmente, ser repetido.
*Gabriel Boyer é empreendedor e investidor serial. Co-fundou e liderou a área de operações da NEWE Seguros por dois anos (2019-2021), período em que a empresa se tornou a 6º maior seguradora do Brasil com foco no setor agrícola.