Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental (IPRC Brasil) em 2019 trouxe um dado alarmante: 35% dos profissionais não são transparentes quando se deparam com dilemas éticos organizacionais. Um novo estudo, desenvolvido já em meio à pandemia da Covid-19, revela, porém, uma mudança sensível nesse cenário.
Para compreender o risco comportamental diante da atual crise, o IPRC analisou respostas de 1.226 profissionais entre os meses de abril e dezembro de 2020 e constatou que os funcionários mentem menos durante a pandemia. Na análise, 25% dos respondentes apresentaram respostas hipócritas, uma diminuição de 10% na comparação com respostas antes do evento.
O processo foi aplicado a empregados de 26 empresas privadas que ocupam posições sensíveis em suas organizações, sensibilidade essa que pode estar atrelada à vulnerabilidade das atividades que seu cargo propicia ao lidar com informações confidenciais, bens, dinheiro, negociações etc.
Segundo Renato Santos, especialista em compliance e diretor do IPRC, por se tratar de uma pesquisa exploratória, não foi possível identificar as causas dessa mudança de comportamento. “Porém, isso nos revela uma perspectiva alentadora: a humanização nas relações profissionais pode ser a chave da mudança ética”, avalia.
Sobre o tema, Santos levanta alguns questionamentos que valem ser contemplados, como a possibilidade de o trabalho remoto por distanciamento social ter facilitado (ou imposto) uma conduta mais “verdadeira” dos profissionais, por estarem em seu ambiente pessoal (ou mais próximos a familiares). “São questões extremamente pertinentes e que podem ajudar a entender um comportamento diferente em um ano totalmente atípico”, afirma o especialista.
Santos reforça ainda a aplicação do teste de integridade como uma das formas de prevenir situações de dissimulação, assédio e fraude nas empresas. Essa ferramenta consiste na simulação de situações antiéticas com o objetivo de avaliar a predisposição do indivíduo para cometer atos imorais ou ilícitos. “É um instrumento importante para medir a resiliência do sujeito diante de um dilema ético e, consequentemente, proporciona subsídios para mitigar o problema na organização. No entanto, não podemos cair em uma visão binária e ingênua ao tentar classificar o avaliado como íntegro ou não íntegro. O ideal, portanto, é demonstrar de que forma as convicções comportamentais do avaliado se distinguem dos valores da organização”, ressalta.
De acordo com o especialista, é preciso investir na ampliação da percepção moral do indivíduo por meio do investimento na instrução. “E a instrução, por sua vez, é mais ampla do que capacitar a equipe exclusivamente para a atividade profissional em sua dimensão técnica. Daí a necessidade de investimento em programas de promoção da ética de forma mais detalhada e aprofundada”, enfatiza.