Tendo aumentado sua participação no mercado total de automóveis e comerciais leves em 2020, o segmento de picapes está aquecido no Brasil. Como mostram dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), após uma queda de 16,46% no volume de vendas entre 2019 e 2020, no ano passado a categoria abocanhou 14,68% da parcela de mercado, ante os 12,89% registrados há dois anos – mesmo que o preço médio de uma unidade 0km supere os R$ 200 mil para alguns modelos médios.
Diante da atual demanda nacional pelas picapes, um levantamento realizado pela Kelley Blue Book Brasil, empresa especializada em pesquisa de preços de veículos novos e usados, identificou que 7 dos 11 principais modelos disponíveis apresentam versões cujos preços de revenda podem ser atualmente maiores que o valor de equivalentes 0km, considerando o mesmo ano-modelo.
O destaque, segundo a companhia, é o Fiat Strada 2021, cuja versão Endurance de cabine simples pode ser encontrada com preço até 3,51% acima do valor de uma unidade nova (de R$ 68.988 para R$ 71.411). A Renault Duster Oroch 2022, que atualmente é vendida em versão única, também pode ser encontrada mais valorizada de segunda mão do que como 0km, com disparidade de até 3,27% (de R$ 87.694 para R$ 90.561).
Entre outras picapes usadas valorizadas estão a Toyota Hilux SRV 2021, com variação de até 2,58% (de R$ 172.844 a R$ 177.305) e a Ford Ranger Storm 2021, com diferença máxima de 1,85% (de R$ 189.674 a R$ 193.178).
De acordo com a KBB, esse fenômeno incomum pode ser fruto de diversos fatores de contexto. Para começar, o impacto da pandemia da Covid-19 no fornecimento de matéria-prima para a produção de automóveis força a suspensão de linhas de montagem pelas fabricantes e gera um desequilíbrio entre oferta e demanda.
Ante a escassez de alguns modelos novos no mercado, ofertas de alternativas seminovas, com baixa quilometragem, acabam se valorizando, especialmente num momento em que, além de as revendas, como um todo, estarem aquecidas, segue havendo forte demanda por picapes pelo setor do agronegócio, onde estão os consumidores tradicionais do segmento, em boa parte menos impactados economicamente pelos efeitos da pandemia.