Um estudo publicado na revista Arquivos Médicos dos Hospitais e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo apresentou uma constatação interessante: a susceptibilidade das gravatas de médicos e estudantes de medicina à contaminação bacteriana, podendo atuar na comunidade como meio de transporte para bactérias resistentes aos antibióticos.
Hoje em dia é cada vez menos comum vermos profissionais de saúde engravatados, mas eles existem. E, segundo a pesquisa da FCM/Santa Casa, devem parar de usar o adereço em ambiente hospitalar. A pesquisa lembra que diversos objetos podem agir como fômites (objetos capazes de reter e transportar microorganismos infectantes) para a contaminação bacteriana, inclusive os jalecos, aventais e camisas. Mas esses normalmente são higienizados com frequência. As gravatas, não. Estas poderiam, portanto, transportar microrganismos capazes de colonizar outras áreas e, direta ou indiretamente, contaminar indivíduos debilitados. Assim, mesmo médicos que realizam higienização adequada das mãos podem se recontaminar pelo contato com gravatas.
A pesquisa coletou amostras com swabs (cotonete estéril que serve para coleta de exames microbiológicos com a finalidade de estudos clínicos ou pesquisa) das gravatas e camisas dos médicos de um hospital escola de grande porte no centro de São Paulo e avaliou seu grau de contaminação. Foram comparados os achados a um grupo controle com swabs de gravatas e camisas de estudantes de direito de uma universidade no centro de São Paulo. Foi realizada a avaliação das possibilidades da contaminação para ambos, além do perfil de sensibilidade das bactérias que não pertencem à microbiota normal.
Concluiu-se que a contaminação das gravatas de médicos foi superior à de advogados (p<0,05), evidenciando bactérias patogênicas em ambos os grupos. Na análise de camisas, porém, não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos.
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O estudo joga luz sobre mais uma variável de um tema que é extremamente sério e um grande desafio para quem atua na administração de hospitais e outros estabelecimentos da área de saúde. As infecções hospitalares costumam ser severas e não é raro surgirem nesses ambientes super bactérias resistentes a todos os antibióticos existentes. Assim como as gravatas, objetos trazidos por visitantes, falta de controle de procedimentos, precariedade de estruturas, falta de materiais adequados para manuseio de instrumentos, dentre outros fatores, contribuem para aumentar esses riscos.
Intitulado “Investigação microbiológica entre diferentes indumentárias em Hospital Escola em São Paulo (SP) Brasil”, de autoria de Fernando de Andrade Quintanilha Ribeiro, Alessandra Navarini e Marina Pelicice Marcato, o artigo pode ser acessado em https://doi.org/10.26432/1809-3019.2019.64.2.108