Os jogos de sorte e azar, como as apostas esportivas, não são nenhuma novidade. De resto, o Brasil já teve uma série de cassinos 100% legais e operacionais, que se encontravam em actividade antes da década de 40 e que atraíam muitos visitantes estrangeiros. Hoje em dia, mesmo que o jogo seja tecnicamente ilegal em território nacional, centenas de brasileiros usam as principais casas de apostas e sites internacionais para jogar poker, fazer palpites, ou tentar sua sorte na roleta. É por isso claro que os jogos de sorte e azar fizeram e continuam fazendo parte da história cultural do Brasil. Mas se assim é, por que continuam a não fazer parte da lei?
Religião e corrupção
A primeira explicação para esse fenômeno pode ser cultural. O Brasil é um país extremamente religioso, onde diferentes igrejas organizadas se mostram muito influentes, e onde muitos crentes ainda vêm os jogos de sorte e azar como religiosamente proibidos ou imorais. No entanto, o mesmo se pode dizer de muitos dos países onde o jogo a dinheiro é regulamentado. Na América do Sul, onde a religião desempenha, em geral, um papel muito importante, apenas o Brasil e a Bolívia não possuem leis de jogo. O motivo parece por isso ir além da questão religioso-moral, se prendendo em princípios económicos.
Quando questionado acerca da eventual legalização dos cassinos no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro apelou não só para princípios éticos como para problemas práticos. Segundo o estadista brasileiro, legalizar os cassinos daria origem a um número sem precedente de actividades criminosas, como corrupção ou lavagem de dinheiro. Mas se nos outros países leis eficazes foram postas em prática de modo a combater a lavagem de dinheiro e outras preocupações, por que motivo essas mesmas leis não funcionariam no Brasil?
As vantagens da regulamentação
Embora seja muito difícil decifrar por que motivo os jogos de sorte e azar continuam sendo um tema tabu no Brasil, é relativamente fácil avaliar as consequências positivas da sua eventual legalização. Para começar, existe a vantagem económica. A indústria dos jogos de sorte e azar é um negócio fértil e rico. A legalização do jogo no Brasil representaria não só um aumento no número de postos de trabalho, como uma receita adicional muito relevante para o estado, que poderia ultrapassar os vários milhões de reais. Esse dinheiro poderia ser posteriormente aplicado em sectores sociais, como o apoio à pobreza ou a construção de novas infraestruturas públicas.
Além disso, a regulamentação dos jogos de sorte e azar ajudaria a combater as casas de jogo ilegais, oferecendo aos jogadores uma alternativa segura e não-criminosa. Seria também importante para os empresários do mundo online, que poderiam abrir seus próprios sites de apostas esportivas e jogos de cassino virtuais. Finalmente, ajudaria a contribuir para o turismo no Brasil. Basta lembrar a história dos velhos cassinos do Rio de Janeiro para perceber que um cassino de luxo é capaz de atrair muitos visitantes de fora do país, estimulando desse modo economias locais com a criação de negócios, emprego, e novos serviços.