Afinal, será que aquele seu amigo, primo ou tia que passou a pandemia inteira sem se infectar com a Covid-19 é realmente imune ao vírus? É justamente isso que a ciência está tentando descobrir.
De acordo com apuração de O GLOBO, há estudos que levantam hipóteses variadas sobre o porquê de algumas pessoas, mesmo expostas ao coronavírus, não terem manifestado sintomas. Algumas dessas teses, são: fatores genéticos, resposta imunológica poderosa, tipo sanguíneo e uma alteração rara em um receptor no corpo.
A seguir, entenda qual a linha de pesquisa de cada uma das possibilidades.
Fatores genéticos
Assim como a genética pode ser o que determina qual a gravidade da doença, há a chance de que ela seja o motivo pelo qual algumas pessoas simplesmente não se infectam com o SARS-CoV-2.
Pesquisas que buscavam entender os fatores genéticos que contribuem para o agravamento da doença, descobriram que 20% dessas pessoas apresentavam mutações nos genes que produzem interferon, uma substância que compõe a primeira linha de defesa do organismo contra o vírus.
Agora, esses mesmos estudos buscam encontrar agora quem são essas pessoas super imunes e identificar os genes que conferem essa proteção.
Resposta imunológica poderosa
Diferente de ser “geneticamente imune”, amostras de sangue dão base para uma tese que defende que há pessoas que já tinham células T protetoras, sem que elas nunca tivessem contato com o vírus. Esse estudo foi publicado recentemente na revista científica Nature.
A descoberta é particularmente significativa porque as células T impedem a replicação e instalação do vírus no corpo, além de garantirem uma imunidade que dura por anos, não meses, como os anticorpos.
Além disso, elas são capazes de detectar uma parte do vírus diferente da que a maioria das vacinas atuais treina o sistema imunológico para encontrar. Esse conhecimento pode ajudar no desenvolvimento de imunizantes que têm como alvo ensinar o corpo a produzir essas células T contra diferentes partes de proteínas virais. Isso pode ajudar a proteger não só contra as cepas existentes, mas contra novas cepas e até mesmo contra patógenos inteiramente novos.
Tipo sanguíneo
Já no primeiro ano da pandemia, a China conduziu um estudo que identificou que o tipo sanguíneo A tende a estar associado a um maior risco de contrair o vírus da Covid-19. Por outro lado, o tipo O oferece uma menor chance de se contaminar. No entanto, ainda não se sabe o que confere esse efeito protetor.
Alteração no receptor ACE2
É possível que algumas pessoas naturalmente resistentes tenham tipos raros de ACE2, receptor usado pelo vírus para entrar nas células, aos quais a proteína spike do coronavírus não pode aderir.
Análises genéticas recentes revelaram que algumas pessoas possuem mutações genéticas que fazem com que seu receptor ACE2 não seja funcional, portanto, têm uma redução do risco de infecção.
O infectologista Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury, ouvido pela reportagem de O GLOBO, acredita que a explicação para pessoas com uma super imunidade contra a Covid-19 esteja justamente na ausência do receptor, que impede que a infecção se instale, ou em uma resposta imune extremamente robusta. Esse fenômeno não é exclusivo da Covid-19, estando presente em outras infecções virais.