Existe uma cultura entre nós, brasileiros, de que a oratória é um dom. Ou seja, uma característica nata de cada pessoa – e não uma habilidade. Como se fosse uma qualidade restrita a pessoas extrovertidas, falantes etc. “Coisa que Deus dá”, como muitos dizem por aí.
A consequência disso recai sobre o ambiente corporativo: grandes executivos, de grandes empresas, muitas vezes tendo péssimo desempenho em congressos, palestras, conferências, entre outros eventos do gênero.
Culpa deles? Nem tanto. Afinal, a consciência quanto à importância de saber se expressar bem em público chega tarde por aqui – e, às vezes, não há tempo para se aprimorar e, assim, evitar os constrangimentos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, desde muito cedo as crianças são incentivadas a falar em público e lidar com a exposição nas mais variadas ocasiões. As escolas oferecem aulas de oratória em todas as etapas de ensino.
Também há tradicionalmente desafios voltados ao público infantil; prêmios aos alunos que conseguem fazer o melhor discurso. Ou seja, motivação e reforço positivo para que eles se apresentem diante do público e descubram suas habilidades com a fala. E esse processo é contínuo nos demais períodos escolares, até a universidade.
O resultado todos sabem. Executivos americanos (sejam juniors ou sêniors) sempre vão muito bem em suas apresentações – inclusive em outras línguas.
E nós? Que lição tiramos disso?
A nós cabe, sobretudo, concordar que existe uma cultura equivocada sobre a oratória aqui no Brasil. E que ela impacta o nosso ambiente corporativo. Afinal, gera custos de treinamento, atrasa a evolução de carreiras e, às vezes, até mesmo desperta impressão (injusta) de despreparo em relação aos executivos.
Empresas estrangeiras, aliás, custam a entender a necessidade de financiar esse tipo de capacitação – justamente por se tratar de uma defasagem pouco comum a elas.
Portanto, é certo que, muito mais do que “dom”, é preciso treino, preparo e o conhecimento das técnicas de aprimoramento da fala.
O Brasil tem grandes profissionais da comunicação corporativa – muitos, inclusive, reconhecidos internacionalmente. Aqui, são desenvolvidas técnicas das mais inovadoras e difundidas no mundo inteiro.
O que falta (não resta dúvida) é desmistificar culturas equivocadas e antecipar ao máximo o contato dos nossos futuros executivos com a oratória – se possível, ainda na fase escolar.
* Juliana Algodoal é especialista em Comunicação Corporativa e PhD em Análise do Discurso em Situação de Trabalho