Temos tanta informação sobre os millennials – a geração mais estudada da história -, que até temo que isso possa desencadear uma fadiga de informação generalizada (figurativamente falando, claro).
Mas essa geração socialmente consciente, que se acha cheia de direitos e que derrubou os paradigmas tradicionais de emprego, está envelhecendo. Por sua vez, a geração Z está crescendo e entrando em massa no mercado de trabalho, substituindo rapidamente os millennials nos postos iniciantes; com isso, estão se tornando os novos recém-chegados e impulsionando mudanças no ambiente de trabalho em todo o mundo.
Juntas, essas duas gerações já representam mais de um terço da força de trabalho e, em menos de 10 anos, representarão quase 60%. Não há muitos estudos sobre a dinâmica dessa combinação e como ela afetará a gestão das empresas.
Atuo há mais de duas décadas na área de recursos humanos e, como head de Recursos Humanos da Visa América Latina e Caribe, testemunhei uma mudança fundamental na força de trabalho e participei da mudança cultural da empresa. Como meus colegas em outras empresas globais, reconheço a importância de compreendermos os funcionários e o que eles buscam em um gestor. Esses insights são essenciais para o recrutamento, a formação de equipes, a definição de competências e a retenção desses profissionais.
Concluí recentemente meu doutorado na Florida International University com uma tese que buscou analisar a combinação da geração Z com os millennials. Minha pesquisa qualitativa foi baseada em uma amostra representativa e revelou muitos insights sobre esses trabalhadores, inclusive o que eles procuram em um gestor.
Inspiração e segurança psicológica
O estudo revelou que, quando se trata de personalidades e interesses, nossas pré-concepções não correspondem necessariamente à realidade. Também revelou que esses dois grupos têm diferenças e similaridades – mas ambos buscam o mesmo de um gestor.
Tanto a geração Z quanto os millennials foram específicos ao descreverem os comportamentos que procuram em um líder. Todos os pesquisados, inclusive líderes, concordam que é importante que o líder seja atencioso e que valorize o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. “Atencioso e equilibrado”, “relacionável e autêntico” e “honesto e confiável” são as características que as duas gerações mais valorizam em um gestor.
Curiosamente, essas gerações mais jovens não dão tanta importância à diversão, embora os líderes achem que sim e deem mais valor a um ambiente de trabalho divertido do que a geração Z e os millennials. Na verdade, a maior preocupação da geração Z e dos millennials é que os gestores sejam sérios, respeitosos e confiantes. Além disso, eles querem ser liderados pelo exemplo e buscam um líder protetor que os oriente, apoie, ensine e dê feedback.
Essas descobertas ressaltam que, para a geração Z e os millennials, o ambiente de trabalho é, até certo ponto, uma continuação da vida que têm em casa – um local onde buscam segurança psicológica.
Outra área em que nossas concepções divergem das descobertas de minha pesquisa: os líderes acham que a geração Z e os millennials querem um líder motivador. Entretanto, os pesquisados deixaram claro que querem um líder inspirador. A diferença é tênue, mas é o que distingue aquele que inspira, ou seja, que estimula seus instintos e os empolga, do que motiva com razões e incentivos para agir. Outra área de discrepância e que guarda certa relação com a anterior é que os líderes imaginam que a geração Z e os millennials querem exposição e autoridade para tomar decisões, uma aspiração comum na maioria dos círculos gerenciais. Mas isso não foi um ponto enfatizado por essas duas gerações.
Esses conceitos nos permitem entender o que os millennials e a geração Z querem de um gestor e, muitas vezes, vão na contramão dos modelos de gestão a que estamos habituados. Assim, precisamos repensar nossa abordagem e os perfis dos nossos gestores.
* Maribel Diz é head de Recursos Humanos da Visa América Latina e Caribe.