Todo começo de ano inicia uma nova temporada do “Big Brother Brasil”, e as intrigas dos participantes do jogo de convivência se tornam um dos principais assuntos em redes sociais e conversas do dia a dia de muitas pessoas. Ainda que, de certa forma, alguns pensem que o programa é fútil ou previsível, com um pouco mais de observação, podemos aprender sobre relacionamentos interpessoais tanto para a área profissional como para a vida. Afinal, não podemos desprezar a importância do networking nas conexões com outras pessoas e o quanto isso é determinante para o sucesso das nossas relações interpessoais e na carreira.
No reality, os participantes com bons relacionamentos e boas alianças reduzem as chances de ir a um “paredão”, garantindo mais dias no programa. Da mesma forma, na esfera pessoal e profissional, ter bons relacionamentos pode auxiliar na resolução de problemas, gerando mais oportunidades de trabalho e negócio. Além disso, quando não temos dificuldade de nos relacionar, somos mais bem resolvidos interiormente e não sofremos com sentimento de rejeição e isolamento social, o que deixa nossa vida e nossas decisões mais fluidas.
Na área corporativa, os líderes consideram os resultados de entrega e potencial de cada um; porém, normalmente as pessoas que se relacionam melhor passam mais confiança quanto à manutenção ou aperfeiçoamento dessa performance. Já aqueles que têm dificuldade em se relacionar, passam desconfiança quanto ao desempenho e potencial. Por isso, no momento em que será necessária uma demissão (por redução de custo ou outro motivo), a capacidade de networking será, sim, levada em consideração na escolha de quem fica. No “BBB” notamos alguns perfis comportamentais que se destacam tanto no programa, como também na área corporativa:
Planta
Um dos perfis que vemos no “BBB” é conhecido como planta, que é aquela pessoa descrita no jargão popular como “sem sal nem açúcar”. Ela está ali para jogar, mas não se posiciona, não se expressa, prefere não entrar em conflitos, não briga pela sua opinião, não demonstra uma ideia de voto, não interage e não faz questão de estar por inteiro nas atividades apresentadas, dando a impressão de que emocionalmente está ausente e dentro de uma aparente zona de conforto. No mundo corporativo, há muitos profissionais que também agem assim e não fazem muita questão de contribuir, por mais que tenham condições; não expressam opiniões; ficam dentro da sua própria bolha e não fazem questão de sair dela. São pessoas inflexíveis, que não se adaptam às mudanças, pois preferem ficar numa posição confortável, sem boas ambições de crescimentos.
Vilão
Normalmente, quem assume a característica de vilão no reality possui critérios distorcidos para lidar com suas decisões, pois, ao invés de conseguir o que quer de forma amistosa e limpa, faz um jogo sujo, fofoca, trama e gera conflitos propositais e desnecessários, com falas maldosas e distorcidas. Quem age dessa forma costuma ser mais narcisista, pensa muito em si mesmo e joga em grupo por interesse, usando as pessoas em seu benefício. Esse perfil também existe no mundo corporativo, e pessoas que agem dessa maneira no trabalho costumam ser pessimistas, negativas, excessivamente competitivas, inflexíveis e contrárias a ideias novas e que possam dar certo. Quando entra alguém novo e ela se sente ameaçada, dificulta a ascensão do outro profissional. Como a vida real não é um reality, no ambiente profissional é difícil detectar o comportamento, pois algumas situações podem denotar apenas um mal entendido e não uma atitude intencional.
Líder
Há um ditado que diz: “Quer conhecer a pessoa, dê poder a ela”. Vemos isso claramente no “BBB”. Na liderança do programa, ela pode perder o feeling de quem é seu parceiro ou não, pois todos se aliam a ele. Por isso, precisa demonstrar autonomia e análise crítica, pois os resultados dependem das suas tomadas de decisão. Caso não faça a escolha certa para o “paredão”, sofrerá as consequências na semana seguinte. No dia a dia, podemos relacionar o “paredão” com o desligamento: o líder precisa escolher quem vai sair. Lembrando que o desligamento é uma mensagem para quem fica e não exatamente para quem sai. Os fatores que geram a eliminação são a falta de resultado ou um comportamento inadequado.
Protagonista
O protagonista nem sempre é o líder, ainda que, normalmente, quem lidera costuma sair na frente, ser ativo, participativo e estar em evidência. Ele é quem mais se expõe e assume riscos e, durante o programa, pode ter uma relação de amor e ódio com o público. É um ser humano e nem sempre vai acertar. Essa pessoa se destaca por ser íntegra e se expor, mesmo medindo o risco. Na área corporativa, o protagonista é proativo, o famoso “pau para toda obra”, porém, tem o discernimento não só de auxiliar a todos, mas de estar à disposição na hora certa, sem deixar suas atribuições e atividades para trás.
Dependendo do olhar, há como transformar o “BBB” em uma oportunidade de autoanálise, de se perguntar: “o que eu faria no lugar desse participante” ou “como poderia tirar um aprendizado deste episódio”? Mesmo num entretenimento corriqueiro, há coisas que podem auxiliar em nosso crescimento pessoal.
* Kelly Stak é consultora de RH e especialista em desenvolvimento de pessoas e escritora do livro “Rótulos Não Me Definem: Uma História de Resiliência”