Há duas semanas, o Twitter havia anunciado que iria desativar os Fleets, seu recurso que permite a exibição de imagens e vídeos pelo período limitado de 24 horas – semelhante aos populares Stories do Instagram -, por motivos de baixa adesão dos usuários. Mas a poucos dias de sua remoção da plataforma, marcada para esta terça-feira (3), a ferramenta viu crescer inesperadamente a participação espontânea do público brasileiro, chegando aos trending topics da rede social.
No último domingo (1º), diversos usuários do país passaram a utilizar os Fleets para publicar fotos íntimas e mesmo nudes, como uma forma irreverente de se despedir da funcionalidade. A brincadeira ousada dos anônimos foi logo aderida por celebridades, como Bruno Gagliasso, Marina Ruy Barbosa e Pitty, que também postaram Fleets com imagens sensuais.
Após o registro de mais de 70 mil tweets comentando a tendência, a despedida brasileira seguiu repercutindo de forma bem-humorada ontem (2), com alguns usuários do Twitter aproveitando o repentino salto em visibilidade e engajamento do recurso para divulgar pequenos negócios, currículos ou mesmo seus perfis pessoais em outras plataformas.
Curiosamente, o Brasil foi o primeiro país onde o Twitter testou os Fleets, em março do ano passado, mas desde então poucos usuários, aqui e pelo mundo, exploraram regularmente a novidade – muitos dos brasileiros ativos no site sequer a conheciam até domingo.
O episódio inusitado ilustra bem um conceito estratégico bastante explorado no mundo dos negócios e da publicidade, o marketing de escassez, conforme o qual o público consumidor costuma manifestar maior atração por uma oferta escassa, limitada ou exclusiva, qualidades que ampliariam o valor percebido do produto e concederiam status de privilegiados aos seus compradores.
No caso desse sonoro último suspiro dos Fleets, se viu operar claramente um gatilho fundamental para o sucesso de uma campanha segundo o marketing de escassez: o senso de urgência, que, provocado pelo aviso de disponibilidade reduzida do recurso, acabou ironicamente lhe garantindo um patamar de adesão e evidência inédito, alcançado não apenas pelo apelo dos conteúdos compartilhados – nudez e sensualidade são, afinal, ímãs de audiência dentro e fora das redes -, mas também pela disposição geral, típica dos internautas mais assíduos, em se engajar nesse tipo de evento social espontâneo para reafirmar seu pertencimento como parte da comunidade – mesmo que seja subvertendo o “tema” ou “propósito” original do fenômeno com memes e deboche.