O agronegócio é o segmento mais forte da economia brasileira. Nas últimas décadas o setor viveu uma revolução e passou a incorporar tecnologias inovadoras e maquinário de ponta, o que permitiu a expansão das fronteiras agrícolas e o aumento da produtividade. Apenas para se ter uma ideia da importância desse segmento para o país, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o agronegócio foi responsável por 48% das exportações brasileiras em 2020. Esse sucesso não surgiu por acaso. É resultado direto da resiliência do produtor rural, combinada a elevados investimentos e políticas públicas permanentes.
Entretanto, a realidade do setor não é uniforme. Se, por um lado, as grandes propriedades rurais conseguiram introduzir inovação e novas tecnologias no campo; de outro, temos um exército de produtores rurais que ainda estão – em sua maioria – à margem desse processo.
Apesar de terem uma participação muito pontual na pauta de exportações brasileiras, os pequenos produtores rurais têm uma importância fundamental para a segurança alimentar da nossa população. De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, existem cerca de 5 milhões de pequenas propriedades rurais no país, o que representa 77% dos empreendimentos voltados ao agronegócio. Esses agricultores se destacam principalmente pela produção de feijão, arroz, trigo, milho, mandioca, pela pecuária leiteira, criação de suínos e aves; além de dominar segmentos como a produção de hortifruti (frutas, legumes e verduras).
A importância estratégica desses pequenos produtores e sua representatividade numérica, entretanto, não asseguram a esses empresários o devido acesso às políticas públicas que permitam o incremento da sua produtividade e competitividade. Distante, na maioria das vezes, do crédito, de seguros rurais e, consequentemente, das tecnologias inovadoras que levaram o país a um papel de protagonista na produção de alimentos para o mundo, as pequenas propriedades precisam lutar cotidianamente contra as dificuldades naturais, a falta de infraestrutura e de apoio.
Nesse contexto, uma pesquisa realizada pelo Sebrae, em 2020, identificou que 67% dos pequenos produtores acreditam na necessidade cada vez maior do uso de tecnologias para o planejamento das atividades no campo. Na contramão desse cenário, entretanto, eles apontam a existência de sérios obstáculos, principalmente no acesso à internet. Ao mesmo tempo, esses agricultores também demonstram um grau elevado de insegurança no uso de novas tecnologias (40% dos entrevistados), resultado – entre outros fatores – da ausência de capacitação para esse novo momento.
O primeiro passo para mudança dessa realidade que desafia o futuro do país na produção de alimentos começa por uma mudança cultural. Entendemos que o pequeno produtor precisa enxergar a si mesmo como um empresário e a sua propriedade como um negócio. Isso significa, entre outras coisas, incorporar a lógica da gestão qualificada e do planejamento – própria de qualquer empreendedor dos centros urbanos. O mercado consumidor do Brasil está em transformação e o produtor rural precisa estar atento para acompanhar mudanças e antecipar as tendências. Temos registrado uma crescente procura por itens com origem certificada, alimentos orgânicos, além de produtos social e ambientalmente sustentáveis. O consumidor está cada vez mais atento a tudo que diz respeito aos alimentos que consome e exige do mercado essa informação.
A parceria entre o Sebrae, maior referência do país no apoio ao desenvolvimento dos pequenos negócios, e a Yara, líder mundial em nutrição de plantas, vai ao encontro desse esforço para promover a mudança tão necessária no campo. Além de assessorias específicas para os empreendedores de diferentes regiões, estamos proporcionando o acesso a um conteúdo técnico, abordando temas centrais como finanças, empreendedorismo feminino, marketing digital, avaliação da gestão da produtividade rural, entre outros. Nossa meta principal é estimular os empreendedores a entrarem com profundidade no mercado digital, para que consigam superar os desafios e se preparar da melhor maneira possível para a retomada econômica no novo cenário que emerge da pandemia.
Sebrae e Yara compreendem que o Brasil precisa promover uma nova revolução no campo, que passa, principalmente, por propiciar aos milhares de pequenos produtores rurais melhores condições de trabalho. Precisamos aumentar o nível de produtividade das pequenas propriedades, elevando também os níveis de rentabilidade desses negócios, que são fundamentais para o país. O desenvolvimento desses agricultores, com qualificação adequada e acesso às novas tecnologias, vai contribuir para proporcionar ao trabalhador do meio rural ainda mais conhecimento e oferecer a estes profissionais uma vida ainda mais próspera.
A mudança já começou. E temos a certeza de que não estamos sozinhos.
* Carlos Melles é presidente do Sebrae.
** Olaf Hektoen é presidente da Yara Brasil.