É possível que você já tenha assistido a um famoso trecho de stand-up do comediante norte-americano Chris Rock, em que ele fala sobre violência policial: “Toda vez que um negro inocente é morto pela polícia, vem o papo: ‘Não são todos os policiais, são maçãs podres.’ Mas algumas profissões não podem ter maçãs podres! A American Airlines não pode sair dizendo: ‘A maioria dos nossos pilotos sabe pousar.'” Usando de seu humor sarcástico, Rock chama a atenção para o fato de que não podem acontecer erros quando lidamos com vidas. E essa máxima se aplica perfeitamente ao episódio de insegurança ocorrido no último fim de semana no parque Hopi Hari, em Vinhedo (SP).
Sábado passado, dia 11 de dezembro, visitantes do parque temático tomaram um susto quando a trava de segurança de um dos assentos da montanha-russa Montezum se soltou durante a subida. O problema foi sinalizado para os funcionários do local, havendo então a parada do brinquedo e a retirada dos ocupantes – nenhum deles ferido. A Montezum possui mais de 40 metros de altura e atinge mais de 100 km por hora, sendo indicada pelo próprio parque como a maior montanha-russa de madeira da América Latina. Mesmo com o ocorrido, a atração voltou a funcionar no dia seguinte.
Apesar de o parque informar que além da trava o brinquedo também possui cinto de segurança, e que foi feita inspeção antes da reabertura, além das realizadas como rotina, é difícil pensar no que aconteceu como um caso isolado, sobretudo em um local que já registrou perdas fatais, anos antes, como em 2012, com a queda e morte de uma adolescente de 14 anos devido à abertura de uma trava de segurança enquanto utilizava outro brinquedo do parque, chamado La Tour Eiffel, uma torre de queda livre de quase 70 metros de altura. Houve condenação de responsáveis, mas as prisões foram convertidas em pagamentos a entidade social e prestação de serviços à comunidade, algo mínimo diante de uma vida perdida. No ano passado, foi anunciada a reabertura da atração, com o nome de Le Voyage, mas a inauguração foi adiada para 2022.
Em 2007, outro adolescente, este de 15 anos, faleceu ao passar mal na atração Labirinto. Segundo a mãe, o garoto estava saudável, e ela defende que a morte foi causada pela inalação de uma substância química da fumaça cenográfica utilizada, além de negligência no socorro. O caso, contudo, foi encerrado como laudo inconclusivo, sem responsabilização do parque.
Diversas reportagens, a partir de tais ocorrências, registram e denunciam problemas relacionados a questões de conservação e manutenção dos brinquedos e no treinamento ofertado aos funcionários. Após a divulgação de um vídeo com o acontecimento de sábado, muitos que já foram ao parque têm publicado relatos nas redes sociais de más experiências no local, destacando problemas visíveis detectados durante a utilização de vários brinquedos.
Percebe-se uma dificuldade clara da gestão em administrar de forma satisfatória um grande empreendimento de alto custo, que precisa ser conduzido com humanidade, responsabilidade, profissionalismo, atenção aos detalhes mínimos, total compromisso com a qualidade do serviço prestado e, sobretudo, apreço pela segurança de seus visitantes, que devem ser ouvidos e ter suas colocações levadas em consideração.
Se uma trava de segurança é utilizada, mesmo que haja também um cinto, ela tem sua função; seu não funcionamento desestabiliza emocionalmente os usuários e não é admissível que um erro dessa natureza ocorra, gerando, neste momento, não somente insegurança geral para os visitantes e seus familiares, problemas relacionados à imagem do parque ou a queda de frequentadores, mas, principalmente, a preocupação geral com a possibilidade de outro acidente grave em um local que oferta um serviço focado em proporcionar alegria e diversão.