Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em apenas um ano, entre 2019 e 2020, o total de trabalhadores que exercia suas funções em casa passou de 7,9% para 20%, em decorrência da pandemia. A rotina laboral chegou tomando espaços da vida familiar sem muito planejamento nem organização. O escritório chegou na sala, quarto, cozinha, varanda e até mesmo no banheiro. Neste cenário, sem muito conhecimento de como as coisas deveriam funcionar, os funcionários deixaram de ter suas rotinas e passaram a conviver as 24 horas do dia sem saber quando começava ou terminava o expediente, podendo se transformar em uma fonte de estresse e improdutividade.
A Medida Provisória 1.108/22, que regulamenta as regras para o trabalho em home office, já está valendo. Esse conjunto de novas regras ajusta a legislação às necessidades desse modelo. Sendo assim, uma série de adaptações foram propostas, como a contratação por jornada, produção ou tarefa, por exemplo. Além disso, nas atividades em que o controle de jornada não é essencial, o trabalhador terá liberdade para exercer suas tarefas na hora e no local que desejarem. Mas como conseguir o mínimo de equilíbrio nessa situação?
O impacto, certamente, foi sentido com ainda mais intensidades pelos gestores. Eles não foram ensinados a fazer uma administração remota, quebrando o principal controle dessa liderança: a interação física e próxima. Tais mudanças, no entanto, demandaram uma visão sistêmica, busca do equilíbrio e coragem desses profissionais para testar formatos e repensar modelos tradicionais de processos, interações e reuniões. Dessa forma, uma nova relação de confiança precisou ser estabelecida entre contratantes e contratados: gerenciar performances se tornou o principal desafio dos líderes nesse novo cenário.
Os gestores de RH buscaram soluções para esse momento e chegaram a um ponto que atende às necessidades tanto das empresas quanto dos funcionários: o trabalho flexível. Por mais que trabalhar de casa tenha sido feito de forma proveitosa e tenha suas vantagens, eliminar completamente o convívio social pode não ser a melhor estratégia para a saúde mental dos profissionais, para a produtividade e, consequentemente, para os resultados dos negócios como um todo. Em resumo: o modelo de home office implementado com a pandemia não é o que devemos estabelecer como padrão para o futuro.
Grande parte das empresas que adotaram a opção do home office tiveram que voltar atrás, pois viram que a decisão não é sobre onde as pessoas precisam estar, mas sobre o que devem fazer e como. O que você precisa fazer define onde você precisa estar. Não existe uma rivalidade entre o trabalhar de casa ou do escritório. Para que o híbrido se estabeleça, é necessário que as pessoas se sintam bem em ambos os ambientes e aproveitem as vantagens de cada um no momento adequado, gerando um fluxo entre as duas posições.
Estar em casa pode ser ótimo para as tarefas que exigem um maior esforço de concentração e silêncio. Para atividades que demandam colaboração da equipe e mais interações, ir até o escritório, que oferece toda a estrutura necessária para a execução de um trabalho (salas de reunião, internet rápida etc.), é muito mais produtivo. Isso sem falar nos dias em que as crianças estão em casa sem aulas ou o vizinho de cima está em reforma.
O papel dos escritórios, portanto, é servir às pessoas em suas peculiaridades e necessidades. Sendo assim, a localização do ambiente de trabalho precisa levar em consideração o bem-estar de todos e não apenas dos executivos. Essa configuração dá às empresas a oportunidade de enriquecer a diversidade e encontrar novos talentos ao alavancar trabalhadores que estão em regiões mais afastadas dos grandes centros. Tudo isso sem gerar custos a mais no final do mês, de maneira ágil e sem risco – características que são pilares da economia compartilhada.
Claro, há quem seja contra. O fato é que não tem certo ou errado nesse cenário. O que existe é o desafio de harmonizar a somatória dos perfis em um mesmo ambiente organizacional, seja ele físico ou virtual. Mais uma vez, a chave para essa equação está no equilíbrio.
O que é possível ver é que os grandes espaços físicos que acomodavam as corporações já estão dando lugar a ambientes menores e rotativos que, além de funcionarem como um local de trabalho, são um ponto de encontro, pesquisa, entretenimento e criação coletiva, fomentando, cada vez mais, a conexão entre as pessoas. Talvez, em um futuro próximo, nenhuma empresa – pequena, média ou até uma multinacional – precise de grandes espaços físicos. O que temos certeza é que a necessidade de conexão permanecerá e as companhias que conseguirem entender essa dinâmica terão todas as ferramentas para surfar nessa onda e inaugurar um novo olhar de trabalho. Nem home, nem office. Você está preparado para o híbrido?
* Tiago Alves é CEO do IWG no Brasil, grupo detentor das marcas Regus e Spaces no País.