Maximiliana Manotuppa é uma mulher andina, descendente dos habitantes indígenas de Cusco, que trabalha na famosa Trilha Inca que leva a Machu Picchu.
Ela carrega nos ombros o peso da mochila em que carrega a bagagem que os turistas ambulantes precisam na rota de quatro dias que leva à cidade sagrada dos incas. Mas também deve carregar o peso da dor e as memórias de uma vida em que o abuso físico, emocional e psicológico era moeda comum.
Os homens mais importantes de sua vida como seu pai e ex-marido têm exercido sobre ela um dos piores flagelos que o Peru sofre hoje, violência de gênero.
De fato, a atual pandemia do coronavírus e as limitações de mobilidade e confinamento têm destacado essa difícil teia social de violência doméstica. Estima-se que, segundo dados do Ministério da Mulher e das Populações Vulneráveis (MIMP), os pedidos de ajuda aumentaram categoricamente com o advento da crise de saúde do COVID-19.
É por isso que a visibilidade do curta-metragem documental da rede Al Jazeera ajudará a tornar esse problema visível e auxiliará a conscientizar a sociedade e as instituições.
Nesse contexto, destaca-se o trabalho da Evolution Treks, uma empresa de turismo que desde 2018 tem ajudado a cortar com as cadeias do machismo nos trabalhos de subida a Machu Picchu. Com valores de ordem ética e sustentável, eles introduziram um grupo de mulheres para que possam trabalhar nesta área dominada por homens e assim conseguir correr com os estereótipos e mitos de que as mulheres não seriam capazes de trabalhar na estrada inca para Machu Picchu.
Maximiliana mostra no documentário como decidiu assumir o desafio de ser uma daquelas primeiras carregadoras femininas e como foi lá que ela teve que enfrentar os fantasmas da violência doméstica que a assombraram quando criança.
Ela, que normalmente trabalhava limpando casas, teve que se livrar de suas inseguranças e medos de começar a trabalhar na famosa rota de quatro dias e, assim, conseguir dinheiro para que pudesse sustentar ela e sua filha financeiramente.
O documentário Warmiwañusca, dirigido por Lali Houghton, de Pacha produções e apresentado pela Al Jazeera na rede de televisão do Catar, consegue capturar uma narrativa dolorosa e comovente da violência doméstica que existe na realidade dos Andes peruanos.
O cenário é talvez tão impressionante quanto a própria história, porque se passa na própria trilha Inca; um lugar imensamente bonito, cheio de florestas nubladas e montanhas frias e inóspitas.
Warmiwañusca ganhou diversos prêmios internacionais, como o prêmio do público no festival de cinema de Austin, Texas, nos Estados Unidos, o prêmio de melhor mini documentário no festival internacional de cinema de Londres, entre outras menções honrosas.
Você pode ver o curta-metragem completo no neste link do Youtube.