De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar de os negros terem aumentado a presença nas salas de aula das faculdades e universidades, ainda são minoria nos cargos de liderança no país.
O levantamento indica que menos de 3% de mulheres e homens negros chegaram a cargos de diretoria ou gerência no Brasil, número três vezes menor que o registro de mulheres e homens brancos em posições do tipo.
Fugindo à regra, Flávia Garcia comanda a área de diversidade e inclusão do Google na América Latina e no Canadá. Como gestora, ela identificou uma das barreiras para o acesso a oportunidades em processos seletivos: o inglês. “Esse inglês que era a barreira. E o inglês está correlacionado com oportunidade e acesso. Não tem a ver com habilidade, inteligência e esforço”, avalia Flávia.
Recentemente, Osvaldo Pimentel assumiu o cargo de CEO na plataforma de venda online Monetizze. Ele explica que em 2016, quando foi chamado para prestar serviços jurídicos, não imaginava que se tornaria gerente do setor, superintendente e, anos depois, chegaria à cadeira de CEO. “Sou filho de empregada doméstica e hoje lidero 200 funcionários. Não podemos desistir de acreditar no poder do sonho, da obstinação. O ser humano nasceu para realizar, mas só isso apenas não basta. É preciso oportunidade, uma rede de apoio, uma base mínima de onde sair. E é necessário também ter referências”, argumenta o executivo.
Nesse contexto, Osvaldo defende a importância das políticas afirmativas. “Penso no exemplo mais óbvio, que são as cotas nas universidades: no mundo ideal é claro que seria muito melhor começarmos pela educação de base, mas precisamos criar uma massa crítica capaz de manter o diálogo aberto e avançar e, principalmente, mostrar especialmente às crianças negras que é possível e que vale a pena lutar”, conclui.
Algumas iniciativas têm sido feitas para ampliar a equidade racial nas organizações, entre elas, vagas exclusivas e mentorias para a formação de lideranças. Mas o alerta permanece: segundo o Instituto Ethos, no ritmo em que o Brasil se encontra, a igualdade no ambiente de trabalho só será alcançada em 150 anos.