O burnout foi reconhecido neste ano como doença do trabalho – e não é para menos. Segundo um levantamento recente feito em parceria pela HRtech Pulses e a Vittude, 81% dos colaboradores têm se sentido esgotados ao fim do dia. A pesquisa foi feita com mais de 3 mil pessoas de empresas de diferentes portes e segmentos, com o objetivo de acompanhar o estado emocional dos trabalhadores brasileiros.
Através da ferramenta, a Pulses investigou fatores referentes às condições e organização do trabalho, como dificuldades para cumprir atividades, frustração em relação ao emprego, falta de disposição para trabalhar, falta de paciência com os colegas, necessidade de provar seu valor profissional, cargas além da capacidade, dificuldades de realizar entregas e sensação de esgotamento.
“Alguns estudos já mostraram que essas condições, quando presentes em altos níveis, estão fortemente relacionadas ao estresse e ao esgotamento emocional. Geralmente, o burnout se manifesta em profissionais que têm cargas excessivas de trabalho, rotinas de atividades realizadas sob pressão ou objetivos difíceis, diante dos quais o colaborador se sente incapaz de atingir. É uma doença séria, com grandes chances de se desenvolver para quadros graves de adoecimento psicológico”, explica Beth Navas, co-founder e especialista em People Science da Pulses.
O levantamento também mostrou que 60% dos colaboradores relatam estar se sentindo sem disposição para trabalhar, e 67% sentem que precisam provar seu valor no emprego. Para Navas, esses índices mostram que os gestores precisam estar alertas e evitar um efeito “bola de neve”, quando pequenas questões vão se acumulando até culminar em um caso de burnout.
“Além de chegar a afetar a saúde física do colaborador em alguns casos, o estresse acaba afetando diretamente na produtividade, na taxa de retenção de talentos, no engajamento, no desenvolvimento profissional… Ou seja, o bem-estar emocional permeia todos os pontos de contato da jornada do colaborador. Se o tema não for prioritário na estratégia das empresas, ele pode causar danos irreparáveis nos resultados do negócio”, enfatiza.
Mais da metade dos colaboradores também relataram estar se sentindo frustrados com o trabalho (54%), com dificuldades para cumprir suas atividades (51%) e sem paciência com outros membros da equipe (51%). Com os resultados, a Pulses e a Vittude pretendem ajudar os gestores e o RH a buscarem planos de ação para evitar o adoecimento emocional dos trabalhadores. A pesquisa, inclusive, está disponível gratuitamente por 14 dias no site da Pulses.
Mulheres estão se sentindo mais esgotadas que homens
Fazendo um recorte por gênero, o levantamento também mostrou que as mulheres estão com resultados menos favoráveis quando comparadas aos homens. Quando o assunto é esgotamento, 85% relataram um cansaço extremo – contra 75% de homens. Os índices ficam ainda mais distantes nas perguntas sobre frustrações com o trabalho (59% delas concordaram contra 48% deles) e disposição para trabalhar (69% x 46%).
“Esses resultados reforçam a série de estudos que comprovam que as mulheres estão muito mais sobrecarregadas com o que chamamos de jornada tripla: atividades profissionais, de cuidados domésticos e com filhos e/ou parentes idosos ou doentes. Ter tantas cargas físicas e mentais pode acabar desencadeando o burnout”, comenta Navas.
A especialista também ressalta que é papel do gestor estar preparado para conversas francas e difíceis sobre saúde mental. “Em um mundo em constante turbulência, sobressaltos e incertezas, é comum que as pessoas vivenciem sintomas de estresse, medo e preocupação. Os líderes e o RH precisam levar isso em consideração e estar disponíveis para auxiliar seus colaboradores, antes que as insatisfações venham a gerar problemas psicológicos. Assim como em diversas outras questões de saúde, agir preventivamente é a melhor opção para garantir o bem-estar emocional”, conclui.