Em novembro de 2019, um menino de 4 anos, na Itália, foi levado ao pronto-socorro com sintomas respiratórios e vômitos, e logo depois apresentou manchas vermelhas na pele. Os médicos desconfiaram que podia ser um caso de sarampo, mas os testes deram negativo. Agora, um ano depois, pesquisadores da Universidade de Milão afirmam que o caso da criança se tratava, na verdade, de covid-19.
Em estudo publicado nesta semana, os pesquisadores afirmam que o coronavírus já circulava na Itália meses antes do primeiro caso oficialmente conhecido, relatado na região da Lombardia em 21 de fevereiro de 2020. “Evidências sugerem que a síndrome respiratória aguda grave do coronavírus 2 (SARS-CoV-2) estava circulando despercebida por várias semanas na Lombardia antes da primeira detecção oficial”, diz a publicação.
O estudo afirma que, como alguns dos primeiros relatos de manifestações cutâneas de Covid-19 foram feitos por dermatologistas na Itália, os pesquisadores resolveram fazer uma análise retrospectiva de casos que eram suspeitos de sarampo, mas tiveram resultados negativos para a doença, a fim de verificar a possibilidade de serem casos de Covid.
Foram analisadas amostras coletadas entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020 de 39 pacientes, e uma apresentou resultado positivo para SARS-CoV-2. “A sequência foi identificada em uma amostra coletada de um menino de 4 anos que vivia nos arredores de Milão e não tinha histórico de viagens relatado. Em 21 de novembro, a criança apresentou tosse e rinite; cerca de uma semana depois (30 de novembro), ele foi levado ao pronto-socorro com sintomas respiratórios e vômitos. Em 1º de dezembro, ele teve início de uma erupção na pele semelhante ao sarampo; em 5 de dezembro (14 dias após o início dos sintomas), foi obtida amostra de esfregaço de orofaringe para diagnóstico clínico de suspeita de sarampo”, diz o estudo.
Os pesquisadores afirmam também que não é possível afirmar qual a origem da cepa do vírus, já que a amostra coletada foi para diagnóstico de sarampo, e não era ideal para detecção de covid. Além disso, o descongelamento da amostra pode ter degradado parcialmente o RNA do vírus. Mas declaram que o achado é importante porque ajuda a entender como o vírus se espalhou de forma tão devastadora na Lombardia. “A disseminação não reconhecida de SARS-CoV-2 a longo prazo no norte da Itália ajudaria a explicar, pelo menos em parte, o impacto devastador e o curso rápido da primeira onda de COVID-19 na Lombardia”.