Muito além de habilidades práticas e traços específicos de personalidade, o mercado procura hoje algo além. Nas entrevistas e no dia a dia das empresas, é preciso preencher o requisito do “fit cultural”, ou seja, ter um alinhamento direto com a visão, a missão, e os valores que definem a cultura organizacional da companhia. Essa harmonia entre o colaborador e a organização melhora o envolvimento e engajamento do profissional, ajuda a diminuir o turnover e aumenta a produtividade, contribuindo com a lucratividade e com uma trajetória de sucesso.
Para buscar o match, no entanto, as empresas precisam ter sua cultura organizacional muito bem desenhada e definida. De acordo com o levantamento “O impacto da cultura organizacional no futuro dos negócios”, da PwC, o desempenho da companhia no mercado está ligado ao equilíbrio entre três pilares: estratégia, modelo operacional e cultura. Esta última pode parecer uma palavra simples, mas representa um conceito fundamental, que condensa os hábitos, comportamentos, crenças, valores éticos e morais e as políticas internas e externas da organização.
Por isso, o fit cultural começa dentro de casa, com a empresa completamente alinhada a seus anseios, focada em seus objetivos e harmônica com seu time em todos os níveis da estrutura organizacional. Só é possível encontrar o par perfeito no mercado, se a organização souber o que está procurando.
Uma boa cultura corporativa garante um desenvolvimento sadio e sustentável tanto do negócio como de todos os profissionais envolvidos. Não à toa, 76% dos líderes corporativos brasileiros afirmam que esse é um assunto relevante em suas agendas, segundo o mesmo estudo da PwC. Entre as 50 empresas mais amadas do Brasil, divulgadas em ranking de uma grande revista brasileira, esse índice sobe para 100%, o que prova que essas organizações já entenderam a importância de uma cultura intrínseca, compartilhada interna e externamente, para a construção de uma trajetória de sucesso duradoura.
O poder da cultura aberta
Pesquisa da McKinsey feita com mais de mil organizações, mostrou que aquelas com as “melhores” culturas – de acordo com o Índice de Saúde Organizacional da consultoria – oferecem retorno 60% maior do que as que ficaram na média do ranking e 200% mais alto do que aquelas com as piores avaliações.
Dentro desse cenário, instituições que afirmam ter uma cultura distinta são as mesmas que registram média de crescimento de receita e lucratividade quase duas vezes maior que seus concorrentes. Essa cultura distinta se refere, na maioria dos casos, a gestão aberta, modelo de gerenciamento guiado pelo poder da participação no qual os colaboradores têm voz e o consenso é alcançado de forma natural por meio do dissenso – a melhor ideia sempre vence, seja oriunda de um alto executivo ou de um estagiário. Para conseguir engajamento e colaboração é necessário que os colaboradores estejam envolvidos no processo de tomada de decisão. Isso pode tomar mais tempo e esforço, mas os resultados alcançados são indubitavelmente superiores e potencialmente capazes de gerar muito mais valor para a organização.
Considerando apenas as pequenas e médias empresas que mais crescem no Brasil, segundo dados da Deloitte, 75% delas declararam disseminar uma cultura aberta, que aposta em novas perspectivas na solução de problemas no dia a dia. Há um espaço enorme para promover a troca de ideias, e colaboração, igualdade e respeito mútuo são palavras de ordem.
Liderando pelo exemplo
Um dos principais diferenciais desse modelo de gestão é que o líder está sempre aberto para ouvir a equipe. É um gerenciamento participativo, no qual o papel de quem está no comando vai muito além de dar ordens ou delegar ações. Ele representa um conciliador de ideias e se traduz em um exemplo prático da cultura da empresa no dia a dia. Como figura central no processo de construção e disseminação dos valores da companhia, precisa ter a cultura em seu DNA para utilizá-la como bússola da direção estratégica e fonte de vantagem competitiva.
O líder precisa ser um multiplicador da cultura organizacional, a fim de transformar cada um de seus liderados em novos disseminadores desses valores. Cabe ao gestor estimular e fazer desabrochar o sentimento de pertencimento e o orgulho de fazer parte daquela empresa, e de ser sinônimo daquela cultura. Para isso, deve reconhecer e recompensar os profissionais que sigam essas premissas em seu dia a dia, além de incentivar o desenvolvimento da prática da liderança em cada um dos colaboradores, sejam eles gestores ou não. Não se espera que todos cheguem a gerenciar pessoas, mas todos devem ser estimulados a exercitar a liderança.
Antes de conseguir causar impacto positivo, o líder, em um modelo de gestão aberta, precisa praticar a humildade de forma constante e autêntica. Conquistar confiança e credibilidade da própria equipe é primordial para o sucesso. Conhecer, aceitar e até mesmo manifestar suas vulnerabilidades é algo natural e valorizado pelos gestores, pela equipe e por toda a organização. No modelo aberto a soma das partes é comprovadamente maior que o todo. A colaboração forma o elo que une as peças que se complementam e preenchem os espaços falhos ou faltantes. As vulnerabilidades individuais desaparecem quando o motor da colaboração passa a operar a pleno vapor. Nesse modelo a vulnerabilidade não é questão de fraqueza, mas sim uma boa descrição de coragem, liberdade e responsabilidade convivendo em equilíbrio.
Por isso, promover a colaboração dentro da equipe e por toda a empresa é essencial, assim como construir padrões e processos compartilhados, que criem uma paridade entre a liberdade individual e os objetivos do grupo. Avaliações de rota e feedback constantes são outros pontos chaves de uma cultura aberta bem-sucedida, que incentiva o desafio do status quo, a participação da equipe em atividades e eventos de estímulo e impulso da cultura da empresa, e reconhece a importância de uma comunicação direta, contínua e transparente.
Fazendo a diferença
Em um ambiente de constante transformação digital e mudanças cada vez mais rápidas de conceitos e paradigmas, a inovação de produtos, serviços e modelos de negócios das empresas corre o risco de estar sempre um passo atrás. Nesse contexto, a vantagem competitiva das companhias no mercado depende de uma cultura saudável, que se adapte com agilidade e inteligência às novas condições para encontrar maneiras de gerar inovação, aprimorar eficiência operacional e melhorar a relação com os clientes alcançando, assim, o sonhado sucesso sustentável.
A cultura organizacional tem o poder de construir grandes corporações e também de derrubar gigantes. A importância do fit cultural da companhia com suas próprias ideias e valores é o primeiro passo para o desenvolvimento de um time coeso, funcionando em perfeita harmonia e trabalhando com paixão e propósito. Sem essa base, não há negócio – por mais inovador e disruptivo que seja – que sobreviva muito tempo em um cenário cada vez mais mutável e desafiador.
*Alexandre Duarte é Senior Director, Consulting and Training Services Latin America na Red Hat.