Instigado pelo desejo de mudança, o empreendedor sai em busca de transformação – tanto de si quanto do mundo. Enquanto se aventura, tal qual a jornada de um herói, ele pode enfrentar grandes obstáculos, entre eles, a falência. Para quem empreender é sinônimo de sonho realizado, como afirmam 59% dos brasileiros em uma pesquisa de 2020 do Sebrae, perder um negócio é frustrar todo um projeto de vida.
Por ir além do burocrático, superar a falência é uma tarefa difícil – mas não impossível.
Em 2021, cerca de 1,4 milhão de empresas foram fechadas, de acordo com os dados do Mapa de Empresas. “Em nome do desejo de empreender e de fazer a diferença no mundo, as pessoas investem tempo, recursos e energia. Não é à toa que elas ficam devastadas quando dá errado. Podemos comparar a falência com o luto: uma sensação de perda terrível que abala completamente o nosso emocional, gerando sofrimento psicológico”, explica a psicóloga Sabrina Amaral, da Epopéia Desenvolvimento Humano.
Digerir uma perda é mais complexo do que se imagina, conta Amaral: “É como estar preso em uma cela escura, fria e pequena. Nela, você vive um momento de solidão, tomado por sentimentos de medo, insegurança e dúvidas do tipo ‘onde foi que eu errei?’, ‘por que isso está acontecendo comigo’, ‘o que vou fazer agora?’. Dessa forma, as emoções viram cortinas, impedindo uma visão clara sobre o assunto.”
O que faz o fracasso permanecer?
Reviravoltas acontecem. Mas lidar com o fracasso é essencial para chegar ao sucesso. A diferença entre perecer e superar começa na forma com que se vê a situação. “A atitude mental é crucial. A pessoa pode escolher se vitimizar, achando que nada dará certo, ou aceitar que esses reveses são aprendizados que ocorreram de forma inconveniente. Trata-se de construir um olhar humilde, maduro e autorresponsável para aceitar a falha e tentar fazer diferente na próxima vez. A adversidade também desperta talentos”, afirma a especialista.
O que fazer agora?
Para começar a “sacudir a poeira e dar a volta por cima” é necessário uma análise profunda sobre a experiência. Acompanhe abaixo 5 estratégias mentais descritas pela psicóloga para lidar com a falência, livrar-se das desculpas e começar a planejar uma nova rota:
1. Aceite a situação
A negação é um recurso ineficiente para lidar com casos assim. Todavia, aceitar também não é se subjugar ou se resignar, mas sim admitir a existência desse momento difícil. “É importante acolher seus sentimentos e reconhecer que eles são uma parte normal da perda. Assim, eles podem passar e dar espaço a uma nova fase. Vá fazendo isso no seu tempo e compreenda: há coisas que estão no seu controle e outras, não. A trajetória de um empreendedor é uma maratona, não uma corrida de velocidade”, comenta Amaral.
2. Abandone a vergonha por ter falhado
Deixe o erro “ser ele mesmo”, isto é, sem acrescentar nele o peso de ser um tabu. Fale abertamente sobre a falência e converse com as pessoas em vez de se isolar. Empreendedores têm boas histórias e exemplos para compartilhar, tanto de sucesso quanto de falhas. Saber que não é o único a errar faz diferença e traz ânimo para recomeçar. Uma boa alternativa, diz a especialista, é participar de grupos de empreendedores, buscar apoio de mentores e ampliar a percepção dos fatos.
3. Cerque-se de boas pessoas e bons pensamentos
Busque acolhimento em sua rede de apoio. “É fato que muitos ficam constrangidos quando vão à falência e evitam falar disso com amigos e familiares. Só que esconder daqueles que se ama só gera mais estresse. Converse com as pessoas mais próximas para se fortalecer e recuperar o equilíbrio”, recomenda.
4. Planeje o recomeço
Evite se complicar demais. Comece de onde está, fazendo o que pode e usando o que está disponível. A resiliência é uma competência crucial nesse ponto, comenta a psicóloga: “No lugar de ficar se lamentando sobre o que perdeu, pense no que você ainda tem de recurso para recomeçar de maneira diferente. A pergunta certa é ‘como posso sair daqui?’, seguida por um plano de ação bem executado.”
5. Transforme suas emoções em grandes aliadas
Empreender também demanda autoconhecimento. “É mais eficaz usar as emoções em seu benefício do que suprimi-las. Por exemplo, transforme a raiva em energia de ação e o medo de fracassar novamente em uma ferramenta de autopreservação. Ou, ainda, utilize a tristeza para tirar um momento de introspecção e aprender a se conhecer melhor”, aconselha Amaral.
Aventure-se!
Para concluir, a psicóloga da Epopéia deixa um recado: “O melhor antídoto para angústia é o movimento. Evite se acomodar na vitimização. Caso fique pouco à vontade para conversar com sua rede de apoio, você pode buscar ajuda profissional. Lembre-se de que a falência pode fazer parte da sua história, entretanto, não diminui sua competência e nem define quem você é”.