De acordo com relatório divulgado nesta quinta-feira (11) pela revista científica britânica “The Lancet”, cerca de 40% das mais de 470 mil mortes por Covid-19 nos Estados Unidos poderiam ter sido evitadas, em comparação ao desempenho de outros países ricos no combate à doença.
O estudo foi realizado pela Comissão sobre Políticas Públicas e de Saúde na Era Trump, formada por especialistas dos EUA, Reino Unido e Canadá para avaliar o impacto da administração do ex-presidente norte-americano sobre questões sociais e sanitárias enfrentadas pelo país ao longo de seus quatro anos de mandato.
O documento aponta que, diferentemente de outros líderes de países desenvolvidos, Trump minimizou publicamente a ameaça do novo coronavírus antes de começar a levá-lo a sério, espalhando teorias conspiratórias e desencorajando a população a adotar medidas internacionalmente consagradas de controle da pandemia, como o uso de acessórios de proteção e o isolamento social, além de minar iniciativas científicas para combater a propagação da doença e evitar a cooperação internacional.
“Sua recusa em desenvolver uma estratégia nacional agravou a escassez de equipamentos de proteção individual e testes de diagnóstico. O presidente Trump politizou o uso de máscaras e a reabertura de escolas e convocou eventos internos com a presença de milhares de pessoas, onde as máscaras eram desencorajadas e o distanciamento físico era impossível”, afirma o artigo, de acordo com o site da revista “Veja”.
Além disso, ações implementadas pelo governo do republicano aprofundaram desigualdades históricas no país, em um contexto de demissões em massa decorrentes da crise econômica e degradação do sistema de saúde. “Sua principal conquista legislativa, um corte de impostos de trilhões de dólares para os ricos, abriu um buraco no orçamento que serviu como justificativa para cortes nos subsídios de alimentação e moradia que evitam a desnutrição e a falta de moradia para milhões de pessoas nos EUA”, destaca a publicação, segundo a qual o número de pessoas sem seguro de saúde cresceu em mais de 2 milhões durante a gestão Trump.
Reconhecendo que os problemas identificados no estudo têm raízes muito anteriores ao mandato do republicano, os especialistas também ressaltam que os gastos com saúde pública nos EUA caíram de 3,21% para 2,45% entre 2002 e 2019 – cerca de metade da proporção destinada à área no Reino Unido e no Canadá -, enquanto a expectativa de vida de sua população vem diminuindo em relação às de outras nações industrializadas. Em 2018, a diferença entre o tempo de vida nos EUA e demais membros do G7 (Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido) era de 3,4 anos.
Entre as sugestões indicadas pela comissão de estudiosos para reverter o estado crítico do cenário norte-americano e sua infraestrutura sanitária, para além da pandemia da Covid-19, está a criação de um sistema de saúde privado financiado pelo Estado, como o projeto Medicare for All, proposto pelo senador Bernie Sanders quando tentou concorrer à candidatura do Partido Democrata para a eleição presidencial do ano passado.