Empoderamento feminino e compliance
Diversidade e igualdade de gênero tem estado, cada vez mais, no foco das organizações
Durante o mês de março, acende, todos os anos a discussão sobre as questões do empoderamento feminino e de como as mulheres vem, cada vez mais, ocupando espaço, na sociedade e nas empresas. Lembro, especificamente, de uma situação pessoal, quando ocupei uma posição importante de liderança em uma multinacional do setor automotivo, ambiente tradicionalmente “masculino”. Sabia que não era a primeira mulher a ocupar uma daquelas cadeiras da diretoria, mas tinha plena consciência de todos os desafios que estariam no meu caminho. Afinal, naquele momento, era a única diretora, em um universo masculino, não apenas dentro, mas também fora da organização.
Ao longo dos sete anos em que fiz parte daquela diretoria, outras diretoras se juntaram à organização, e não tenho dúvidas que ajudamos a mudar a cultura daquela empresa, não apenas entre seus empregados e colaboradores, como também com clientes e fornecedores, entre outros, a maior contratação e integração de mulheres, inclusive e especialmente em posições de liderança, maior conscientização aos temas de diversidade, conscientização quanto aos temas ligados a assédio e discriminação.
Há um movimento nacional e internacional no sentido de reconhecer as questões de diversidade e igualdade de gênero e exigir das empresas que dediquem e direcionem esforços voltados a buscar a igualdade de gênero. Esse movimento ficou mais claro nos últimos anos com as ações e intervenções da Organização das Nações Unidas que tem, desde outubro de 2015, a igualdade de gêneros como um dos objetivos para o Desenvolvimento Sustentável na agenda 2030.
Nesse sentido, não há como ignorar a importância de inserir, nos elementos dos programas de integridade e na interpretação dos princípios de “Compliance”, a questão da igualdade de gênero. Só para deixar bem claro, o “Compliance” que, no vocabulário corporativo, relaciona-se com os termos conformidade ou integridade corporativa, que abrange todos os conjuntos de regras que cada empresa deve observar e cumprir. Isso inclui não apenas os assuntos ligados aos sistemas anticorrupção, como também ao cumprimento de obrigações trabalhistas, ambientais, concorrenciais, fiscais (contábeis e tributárias), regulatórias, entre muitas outras.
E o tema da diversidade e igualdade de gênero tem estado, cada vez mais, no foco das organizações, que tem buscado progressivamente se adequar às diretrizes básicas de “Compliance” exigidas pelo mercado nacional e internacional, incorporando de forma clara e específica, os tratados internacionais.
Uma forma de realizar essa correlação é preparar a empresa para alinharem-se aos Princípios para o Empoderamento da Mulher (“Women Empowerment Principles – WEP”, em inglês), definidos pela ONU Mulheres e a Cúpula das Nações Unidas, e aos objetivos para o Desenvolvimento sustentável definidos na Assembleia da ONU com participação dos Estados-membros e sociedade civil (ODS 5).
No Brasil, essa tendência não é diferente, e vários importantes grupos empresariais já estão alinhados com os Princípios de Empoderamento da ONU Mulheres, com o foco de estimular a igualdade de gênero, abordar maneiras de incorporar a questão na estratégia do negócio, identificar boas práticas que possam ser replicadas e fornecer ferramentas para mensurar avanços, tais como os 12 indicadores elaborados em conjunto com o Instituto Ethos, que incluem, entre outros, estratégias para a promoção da equidade de gênero; promoção da diversidade e equidade; equidade de oportunidades, inclusão e não-discriminação de gênero.
Mesmo com o quanto o tema já evoluiu, ainda há um longo caminho a percorrer, afinal as pesquisas mais recentes mostram a evolução da presença feminina em posições de liderança, mas também ainda constatam que, em posições similares, as mulheres ainda recebem remunerações menores, quando comparadas aos homens ocupando as mesmas posições.
Marcia Makishi – Executiva de RH e Compliance da innovativa Executivos Associados.