Viver de lucros obtidos na bolsa de valores é o sonho de muitos brasileiros. Há dezenas de cursos online que prometem mostrar o caminho das pedras. No entanto, a realidade é bem diferente, segundo um estudo de pesquisadores da FGV publicado na Brazilian Review of Finance em setembro.
A pesquisa, assinada por Fernando Chague e Bruno Giovanetti, ambos da FGV, foi feita a partir do banco de dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade reguladora do mercado de capitais no Brasil. Todas as atividades de trading entre 2012 e 2018 estão arquivadas no banco, mas o estudo focou nos investidores que entraram no day trade entre 2013 e 2016 e nas operações que eles fizeram até o ano de 2018.
Segundo os pesquisadores, as observações foram realizadas no nível indivíduo-dia-ação, o que permitiu analisar as movimentações de compra e venda em detalhes.
O primeiro dado que chama a atenção é a quantidade de desistências. De um total de 98.378 traders, somente 554 fizeram operações em mais de 300 pregões. Os demais — 99,43% dos investidores — não chegaram a operar em tantos pregões.
Como a pesquisa não foi feita a partir de entrevistas, não é possível cravar os principais motivos para as desistências, porém os prejuízos decorrentes de operações malsucedidas parecem estar no topo.
Mesmo entre os 554 traders que persistiram por mais de 300 pregões até 2018, a rentabilidade não foi animadora. Os pesquisadores calcularam a média dos lucros brutos diários de cada investidor aplicando descontos como emolumentos, taxas de liquidação, corretagem e custódia. Não foram calculadas alíquotas do Imposto de Renda.
Nesse seleto grupo de investidores, o lucro bruto diário médio é, na verdade, prejuízo de R$ 49. Dos 554, apenas 127 obtiveram renda acima de R$ 100 por dia e 76 obtiveram R$ 300 ou mais. Pode-se questionar o período de aprendizado entre os primeiros pregões e os últimos. Mas, segundo os pesquisadores, a conclusão é a mesma — os resultados podem até ser piores.
“Se calcularmos o lucro bruto diário médio de cada um dos 554 indivíduos excluindo os 200 primeiros pregões de cada um, os resultados não se alteram significativamente. A média entre os 554 indivíduos de seus lucros brutos diários médios vai para R$ 91 negativos e a mediana continua em R$ 62 negativos; 130 indivíduos, ao invés de 127, passam a apresentar lucro bruto diário médio acima de R$ 100”, conclui o relatório.
Portanto, é necessário ter cautela com promessas e cursos sobre prosperidade financeira a partir de operações no day trade. O que os dados mostram é que poucas pessoas conseguem resultados realmente satisfatórios nesse tipo de operação de alto risco.
Confira o relatório executivo do estudo.