O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho (sem partido), declarou em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo” que o agravamento da pandemia da Covid-19 no estado e, especialmente, na capital Manaus no início do ano se deve ao alinhamento do governador Wilson Lima (PSC) com a política de gestão da saúde do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Para Almeida Filho, que rompeu com Lima há um ano, o governador do Amazonas possibilitou que Manaus se tornasse um “laboratório” para a geração da P1, variante do novo coronavírus originalmente identificada na cidade e considerada uma das grandes causas da crise sanitária no estado, ao adotar a estratégia da imunidade de rebanho. Defendida por Bolsonaro, a ação se baseia na contaminação generalizada da população para propiciar o surgimento de uma barreira de proteção natural contra a doença na comunidade, em oposição a medidas como as restrições de distanciamento social, criticadas pelo presidente por seu impacto econômico.
“A estratégia dele [Lima] explícita foi mostrar alinhamento com as políticas de combate à pandemia do governo federal. E para isso, contrariamente às medidas sanitárias que deveriam ser aplicadas, o Amazonas deixou a P1 ser gerada. Quem diz isso são os especialistas, a P1 foi gestada entre outubro e novembro, quando se cobrava do governador medidas de contenção”, afirmou o vice-governador. “Uma coisa era clara, a política era de afirmar que se tinha uma imunidade de rebanho. O que acabou acontecendo foi um laboratório, a P1 encontrou ambiente adequado”, acrescentou.
Almeida Filho também acusou Lima de responsabilidade sobre outro aspecto do recente colapso do sistema de saúde em Manaus, a crise no suprimento de oxigênio para hospitais: “Se esperou a água bater no pescoço para a tomada de alguma medida. Quando o governo federal foi acionado o caos já estava acontecendo. Não foi chamado antes por uma questão simples, o governador não queria demonstrar que havia má administração, que ficou patente na investigação sobre a compra de respiradores, por exemplo”.
Lima e Almeida Filho estão entre os acusados por formação de organização criminosa em denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) sobre irregularidades na aquisição de aparelhos de respiração para o tratamento de pacientes da Covid-19 no Amazonas. O vice se defendeu da acusação destacando que a investigação do caso pela Polícia Federal (PF) “concluiu que eu não sou responsável pelos atos que foram praticados”.