O festival de música, cultura digital e tecnologia SXSW, realizado anualmente há 34 anos, foi cancelado por uma decisão do município de Austin, Texas (EUA), onde o evento aconteceria. Segundo a organização, o temor de uma pandemia provocada pelo vírus COVID-19 (Coronavírus) motivou a decisão da administração municipal, que foi acatada pelo festival.
O cancelamento foi anunciado às vésperas da feira, que ocorreria entre 13 e 22 de março, mas o problema já havia sido antecipado por alguns consumidores. Um deles é o especialista em comunicação e professor da ESPM, Renê de Paula Jr. “Desde que a epidemia do Coronavírus ganhou corpo eu decidi não ir, mesmo correndo risco de perder dinheiro, e comecei a pressionar a organização do evento para que cancelassem o festival”, afirma.
Para Renê, que soube do cancelamento por meio de um comunicado oficial no Twitter, “seria uma completa irresponsabilidade juntar centenas de pessoas do mundo todo em salas fechadas por 15 dias; fui acompanhando dia a dia a recusa sistemática do SXSW em cancelar tudo”.
Uma petição no Change.org em favor do cancelamento angariou mais de 55 mil assinaturas. Personalidades como Jack Dorsey, CEO do Twitter, cancelaram a participação antes do anúncio e a Amazon, Apple e Netflix decidiram não realizar suas respectivas premiéres durante a feira. Facebook, TikTok, LinkedIn e outras organizações também decidiram se retirar para não arriscar a saúde de funcionários.
O Festival, em linha com os seus termos e condições, alegou que a devolução dos valores pagos não seria possível. “Vamos apelar para a Justiça e apoiar a petição pública para ressarcimento completo”, diz Renê.
Política de não-reembolso
Esse não é o único caso em que o consumidor tem dificuldades em obter eventuais reembolsos por mudanças de planos decorrentes do fator Coronavírus. Segundo a CNN, reservas em hotéis, em especial quando o viajante vem de regiões livres da epidemia, normalmente não são reembolsadas — ou o cliente recebe apenas uma parte do valor após um acordo administrativo. As políticas variam de acordo com a empresa.
O SXSW ainda não informou, em anúncios oficiais, como procederá em relação aos clientes que foram prejudicados com o cancelamento. No comunicado publicado após a decisão, o festival informa que está “explorando opções para reagendar o evento e trabalhando para realizar uma experiência virtual SXSW online para os participantes da edição de 2020”.
De acordo com a Variety, a organização do evento alega que o seguro contratado não cobre danos financeiros decorrentes de epidemias, como o Coronavírus. O Administradores.com entrou em contato com a assessoria de imprensa do SXSW para saber se há chances de um acordo com os clientes e se haverá um outro evento esse ano, mas não obteve uma resposta até o fechamento da matéria.
Cancelamentos em série
É a primeira vez que o SXSW é cancelado em 34 anos de história do evento. Conhecido por atrair grandes marcas do mercado de tecnologia e sediar lançamentos globais, a feira também tem um impacto significativo na economia do município de Austin. A organização estima que a última edição gerou uma receita de US$ 355,9 milhões para a cidade na última edição por meio do turismo, serviços e vendas de tíquetes.
Outros eventos de porte global também mudaram os planos em decorrência da epidemia de Coronavírus. A Game Developers Conference, Mobile World Congress, F8 (encontro de desenvolvedores do Facebook) e I/O (conferência do Google) adiaram ou criaram eventos virtuais online.
Coronavírus
O COVID-19 é uma das variantes do Coronavírus, que provoca sintomas como febre, tosse, cansaço e, em casos mais agudos, provoca infecções, falência de órgãos e morte.
Na Itália, um dos países mais atingidos, foram confirmados mais de 5 mil casos e 233 mortes relacionadas ao Coronavírus. No Brasil, há 930 casos suspeitos, segundo o último levantamento do Ministério da Saúde, e 25 casos confirmados. A China, epicentro da doença, estima que o ciclo do vírus durará até o mês de junho, quando entrará em declínio.
O surto provocou também uma baixa geral nas bolsas de valores de todo o mundo. Com um novo capítulo da crise do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita, o Ibovespa abriu a semana em queda e chegou a suspender as operações de compra e venda.