O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quarta-feira (11) os dados do medidor oficial de inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), para abril. A variação mensal é de 1,06% no acumulado do mês, maior alta para abril desde 1996, quando o país viu o índice avançar 1,26%.
Um dos maiores vilões é o mesmo dos últimos meses: alimentação. No grupo do IPCA de alimentos e bebidas, a alta foi puxada pela elevação dos preços dos alimentos para consumo no domicílio, que alcançaram 2,59%.
Outro medidor que aponta o aumento do preço dos alimentos é o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a inflação na cidade de São Paulo. O indicador subiu 1,62% em abril, de acordo com os dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
No grupo específico de alimentação, o crescimento foi de 2,43% em março para 3,38% em abril.
De acordo com André Braz, economista e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), a inflação de alimentos apenas em 2022 está em torno de 13%. No ano passado, a inflação geral fechou em 10,06%, o que resultou em um aumento equivalente no salário mínimo deste ano.
O economista aponta que os alimentos estão acumulando um aumento real acima da inflação média. Quando isso acontece, as cestas de consumo das famílias diminuem significativamente, uma vez que o salário não é capaz de acompanhar os preços mais altos.
“Você vai ter que substituir produtos, comprar menos. Diminui a satisfação porque a cesta muda. Isso é mais expressivo em famílias de baixa renda, principalmente se não têm salário indexado à inflação, [como] prestadores de serviço”, afirma André Braz.
O prestador não consegue incorporar a alta da inflação nos serviços. “Então, sempre que os alimentos sobem de preço, e aumentam mais que a inflação média, as famílias de baixa renda comem menos e têm menos acesso à alimentação básica”, diz.
Guilherme Moreira, coordenador do IPC-Fipe, ressalta que, entre o período da pandemia e considerando os quatro primeiros meses de 2022, a alimentação subiu em torno de 40%. “Dificilmente qualquer aumento de salário vai compensar uma alta dessa magnitude”, afirmou.
Inflação na feira livre: começo da desaceleração
A forte alta de alimentos da feira foi o maior destaque dentre os grupos da cesta das famílias no IPC-Fipe. Um exemplo é a cenoura, que até março de 2022 já apontava uma alta acumulada de 166,17% em doze meses, conforme os dados do IBGE para o mês. Além disso, o tomate teve a maior alta para o março, com aumento de 27,22%, na comparação com o mês anterior.
A percepção dos especialistas é de que haverá uma desaceleração daqui para frente, principalmente em relação a alimentos in natura, devido a condições climáticas desfavoráveis vistas desde o começo do ano.
Guilherme Moreira destaca que o aumento foi maior no primeiro trimestre do ano e, em abril, um pouco menor. Mas, analisando-se os dados da alta acumulada do grupo legumes, por exemplo, o valor alcança +50% nesses quatro meses. “É muita coisa, mesmo quando a gente compara com a alimentação, que subiu em torno de 10%”, diz.
Houve muita chuva no período, o que prejudicou muito os preços. “Foi um fator climático que deve se encerrar agora em abril, com o fim do período de chuvas. Portanto, os preços devem começar a cair. A cenoura, por exemplo, já apresentou [pequena] queda no mês”, exemplifica ele.
Entretanto, as condições climáticas não foram as únicas culpadas para a escalada dos preços dos alimentos. André Braz aponta que o aumento de custos relacionados a adubos e fertilizantes defensivos também têm parte da responsabilidade.
Além disso, há a questão dos combustíveis, que afetam o frete dos produtos, tornando o escoamento da produção agrícola mais caro. Todas essas variáveis entram como motivos para o crescimento de preços e chegam ao consumidor final.
“Por problemas climáticos, você tem uma oferta menor. Em paralelo ao aumento de custos, há uma feira livre cada vez mais cara”, reforça o economista da FGV. Com a chegada do outono e inverno, período de condições de clima mais propício e aumento da oferta, boa parte dessa pressão em feira livre deve começar a ceder no começo de maio.
A CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) divulgou na semana passada seu índice de preços de abril, que recuou 3,96% em comparação a março.
A entidade afirmou que, “em um contexto geral, observa-se recuperação ou restabelecimento na oferta dos produtos devido à melhora nas condições climáticas”.
A expectativa para maio é de que o índice continue a desacelerar justamente pela estabilização das condições climáticas, retomada da oferta dos produtos e a estagnação da procura.
Confira a lista da CEAGESP de abril
Conforme os dados da CEAGESP, o grupo de legumes foi o que impactou a queda geral, com -7,94%. O preço do setor de frutas recuou 5,99%, mas o de verduras subiu 12,91%.
Legumes
Entre os legumes as principais quedas foram:
- Pepino caipira (-21,32%);
- Cenoura (-21,85%);
- Pimentão verde (-23,99%);
- Ervilha torta (-24,23%); e
- Pepino comum (-24,23%).
As principais altas foram:
- Abóbora moranga (22,25%);
- Quiabo liso (21,78%);
- Abobrinha brasileira (11,95%);
- Pimentão vermelho (6,60%);
- Pepino japonês (6,31%); e
- Pimentão amarelo (6,22%).
Frutas
O setor de frutas viu as seguintes diminuições de preço:
- Mamão havaí (-18,37%);
- Melão amarelo (-22,16%);
- Maracujá doce (-27,05%);
- Melancia (-38,00%); e
- Mamão formosa (-38,38%).
Já as principais altas foram:
- Goiaba vermelha (17,94%);
- Uva itália (15,41%);
- Abacate fortuna (13,61%);
- Uva benitaka (12,43%);
- Uva rubi (10,78%); e
- Morango (9,82%).
Verduras
As principais altas foram:
- Coentro (49,80%);
- Rabanete (36,93%);
- Alface americana (30,26%);
- Espinafre (28,05%); e
- Couve manteiga (24,02%).
As principais reduções foram:
- Brócolis ninja (-1,05%)
- Cenoura com folha (-3,89%),
- Acelga (-4,25%),
- Couve-flor (-5,58%); e
- Repolho liso (-8,32%).
Como economizar no supermercado: o que funciona e o que não fazer
Com a comida mais cara, os consumidores tendem a procurar maneiras de economizar na hora de fazer compras. Economizar no mercado, apesar da alta generalizada nos preços, ainda é possível. Os especialistas afirmam que não há um truque ou dica certeira para a situação atual, mas, com pesquisa e dedicação, dá para sentir uma diferença na hora do pagamento.
André Braz, da FGV, recomenda que, antes de ir ao mercado, o consumidor faça um inventário do que já tem em casa para não comprar dobrado ou em excesso. “O mercado entende que, quando você compra muito de um determinado produto, é porque aquele preço está baixo e ele vai subir o preço”, disse. Portanto, a melhor forma coletiva para contribuir para que haja menos crescimento dos valores é comprando exatamente o que for necessário.
Outro ponto é dar preferência a produtos de marcas alternativas, que geralmente possuem um preço médio mais baixo. “Às vezes, a gente ‘casa’ com a marca por ela ser muito tradicional, ou ter muito anúncio na televisão. [A marca] às vezes tem muita qualidade, mas esquecemos de experimentar a outra, que tem menos publicidade, que resguarda a mesma qualidade ou mesmo nível nutricional do que aquela que a gente habitualmente compra”, observa Braz. Ele destaca ainda que essas alternativas não significam necessariamente que são de segunda linha.
Também ressalta que fazer compra de mês não é o mais indicado, pois o consumidor perde diversas ofertas e promoções que podem surgir ao longo do mês. Essas promoções podem ser encontradas em panfletos de mercados ou até mesmo online e em aplicativos.
Previsão para inflação
Na segunda-feira passada (3), o mercado elevou pela 16ª semana consecutiva a previsão para a inflação de 2022, agora para 7,89%, de acordo com os dados do mais recente Relatório Focus, do Banco Central.
A previsão geral para a inflação geral deste ano da FGV, conforme André Braz, está atualmente em 7,7%, pouco abaixo de 8% ao ano. Já para a inflação de alimentos, a expectativa é de 13% ao ano. “A nossa previsão de inflação está muito alta. A meta do ano é de 3,5%, o teto da meta é 5% e nós já estamos em uma inflação próxima de 8%”, afirma, reiterando que a inflação alimentícia está muito acima da média. Para ele, esse fator será determinante para as famílias em 2022.
Já Guilherme Moreira, do IPC-Fipe, acredita que os alimentos devem reduzir o ritmo de aumentos a partir de julho, com os in natura já começando a diminuir em maio. “Mas, no curto prazo, não vai ter muito alívio, pelo menos neste ano”, afirmou. “Alimentação vai ser o grupo que mais vai pesar pro consumidor, sem dúvida nenhuma.”
A previsão de inflação da Fipe está em torno de 8% ao ano no geral e mais de 15% para alimentação. “Algum alívio só a partir de 2023”, finaliza.
Conteúdo publicado originalmente no SUNO Notícias