Atualmente o discurso de igualdade de gênero e empoderamento feminino tem sido amplamente discutido e, mesmo assim, ainda há muita resistência e preconceito no mercado de trabalho para mulheres que têm filhos. Ao mesmo tempo em que muitas delas se sentem realizadas em viver a experiência única e especial da maternidade, também precisam lidar com a insegurança do difícil processo que pode surgir no âmbito profissional. Conseguir equilibrar a dupla função de mãe e profissional pode ser ainda mais complexo diante da discriminação encontrada nas empresas, que na maioria das vezes não praticam a empatia e o entendimento necessário a essa fase importante na vida da mulher.
Esse preconceito está baseado no estereótipo de que a profissional que tem filho precisará chegar mais tarde, faltar e ter compromissos fora do trabalho. Mas qualquer outro colaborador contratado poderá ter esse tipo de necessidade por inúmeros outros motivos, como no caso de um tratamento de saúde. Outro erro de avaliação é considerar que a mulher tem maior responsabilidade na criação e educação dos filhos, dando ao pai uma certa isenção desse encargo.
Diferenciação entre licença maternidade e paternidade
Pela diferenciação da própria licença maternidade, que dá à mulher 4 meses e apenas 5 dias ao homem, percebe-se que o pai não é considerado tão importante quanto a mãe nos primeiros meses da criança. Sendo que na realidade essa necessidade existe, e ele deveria ser mais participativo no processo, pois há toda uma adaptação ao novo membro da família, que acorda várias vezes à noite para a amamentação; vai muitas vezes ao pediatra; tem amplo calendário de vacinação para cumprir, entre inúmeros outros cuidados e adequações, que não devem ser um trabalho somente da mulher. Portanto, é muito importante repensar o tempo dessa licença para os homens, aliviando o peso que a mulher acaba sendo obrigada a carregar sozinha.
Não existe igualdade de gênero quando o encargo do recém-nascido fica somente com a mulher. Se tanto a mulher como o homem tiverem as mesmas condições, será mais ético e justo, com priorização do bem estar das famílias. Além disso, o pai que não tem uma licença estendida prejudica tanto a sociedade como a própria empresa, pois impacta na retenção de talentos e ainda compromete a produtividade e qualidade de vida do profissional nesse período tão delicado. São poucas, mas já há empresas que aplicam a licença familiar (independente da lei) aos homens e, na prática, essas corporações puderam constatar maior engajamento de seus funcionários, com impactos positivos, como redução de estresse e maior produtividade.
Algumas companhias criam programas de incentivo para as mães lidarem com a primeira infância de seus filhos sem que diminuam o rendimento no trabalho, como creches no mesmo lugar de trabalho, horário flexível para amamentação, trabalho híbrido ou home office, entre outros benefícios.
Dificuldades das mães na recolocação profissional
Outra dificuldade que as mulheres encontram é na recolocação profissional, pois ainda são questionadas sobre a quantidade de filhos, a idade deles e o que fará com eles para poder trabalhar. Questões que normalmente não são feitas aos homens. Com isso, os próprios selecionadores já demonstram preconceito e fazem uma diferenciação de gênero. Por que não perguntar quais habilidade adquiriu com a maternidade? Afinal, ser mãe deveria ser considerado uma qualidade, pois para criar um filho são necessárias inúmeras aptidões, como responsabilidade; comprometimento; análise crítica para avaliar cenários; resiliência; positividade para não desistir e encontrar soluções; criatividade, entre outras.
Devido a esse posicionamento negativo em muitos processos seletivos, algumas mulheres acabam omitindo que são mães por necessitarem da colocação profissional, o que não é sustentável, pois mentir não é benéfico. Para serem bem-sucedidas na recolocação, elas devem se aprofundar no autoconhecimento e durante a entrevista demonstrar segurança, mostrando que são bem resolvidas nessa situação e o quanto desenvolveram qualidades na maternidade que serão úteis na área profissional.
Vencendo barreiras
É preciso também vencer a insegurança do desemprego depois da licença gestacional, pois esse desrespeito à mulher ainda é recorrente em algumas empresas. Por isso, muitas mulheres, quando entram no período próximo ao nascimento do filho, são tomadas pela incerteza de serem simplesmente subsistidas em suas funções. Para evitar isso, as empresas devem usar de gestão inteligente e humana, deixando a grávida participar do processo de distribuição das tarefas que são dela e até interagir na escolha de quem irá suprir os encargos da função, sem prejuízo à companhia.
Para as mulheres, a maternidade não deve representar um peso ou risco ao desempenho profissional. Elas não precisam se sentir na obrigação de escolher o que é prioridade: carreira ou maternidade. Na realidade, pode existir um equilíbrio perfeito entre ser mãe e continuar trabalhando. Há muitos exemplos de mulheres que não abriram mão de serem bem-sucedidas profissionalmente, mesmo com a maternidade. Ser mãe não desqualifica a profissional; ter sucesso na carreira também não desqualifica o ser mãe. Tudo é uma questão de equilíbrio e sabedoria na condução de todas as coisas.
* Kelly Stak é consultora de RH, especialista em desenvolvimento de pessoas e autora do livro Rótulos Não Me Definem: Uma História de Resiliência.
Para aprender mais
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