Quando as primeiras medidas de isolamento e distanciamento social começaram a ser adotadas no Brasil, no último mês de março, negócios de todos os setores correram contra o tempo para implementar mudanças em suas rotinas e se adequar ao novo cenário. No varejo, enquanto muitas empresas precisaram fechar as portas por um tempo e passaram a atuar apenas de forma online, serviços considerados essenciais permaneceram abertos. Mas, para estes negócios, também foi necessário o trabalho de adaptação: novas regras para entrada e circulação de pessoas, medidas de proteção para funcionários, rigor na limpeza e sanitização de ambientes — tudo isso com a preocupação constante de atender o público de forma segura.
Para entender como a pandemia alterou a rotina dos supermercados, conversamos com Fábio Queiróz, presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj). Além de explicar como o segmento supermercadista respondeu à crise sanitária, Queiróz também fala da retomada do comércio, e afirma que setor lida com o novo momento de forma cautelosa. “Estamos com bastante cautela para esse retorno das demais atividades. Manteremos mais do que nunca todas as medidas e protocolos de segurança, já que pode ser esperado um aumento no fluxo de pessoas”, explica. Confira na entrevista:
Administradores: Diferente do varejo em geral, os supermercados conseguiram bons números de vendas desde o início da pandemia. Em maio, o volume de vendas cresceu 5,6% em relação ao ano anterior. A que se deve esses resultados?
Fábio Queiróz: No início da pandemia houve sim um aumento nas vendas devido a preocupação da população em estocar os alimentos, mas que logo em seguida esse padrão não se manteve, pois as pessoas se conscientizaram com as campanhas divulgadas diariamente pela Asserj em seus canais de comunicação, com boas práticas para os supermercados e a sociedade no geral, além do fornecimento constante de informações sobre o pleno abastecimento das lojas.
Outras medidas que foram fundamentais nesta redução no movimento das unidades estão relacionadas ao aumento de pedidos para entrega em casa e a conscientização do consumidor de comprar somente o necessário, reduzindo, com isso, as idas ao supermercado. Entre os dias 11 de março e 11 de abril, tivemos aumento de 21% nas vendas, se comparado ao mês de fevereiro.
Como a pandemia alterou a rotina dos supermercados? O que foi necessário mudar para que as lojas continuassem funcionando, mas com risco reduzido de contágio para clientes e funcionários?
Desde o início da quarentena a maior preocupação da Asserj era manter um canal ativo com a população para ir abastecendo-a de informações diárias sobre o panorama dos supermercados do Rio, a fim de não haver pânico e correria. A Asserj realizou este trabalho arduamente nas primeiras semanas do isolamento, e hoje vê que isso foi fundamental para manter as pessoas tranquilas.
Orientações de proteção e higiene foram amplamente divulgadas como, por exemplo, a ida de apenas uma pessoa da família às lojas, que os idosos não façam as compras, que evitem levar crianças aos supermercados, disponibilizar álcool em gel na entrada dos locais, constante higienização dos carrinhos, suspensão dos serviços de degustação dentro das unidades, entre outras. Mais ações foram implementadas pelas próprias redes, como a aplicação de barreiras de acrílico nos caixas e a sinalização no piso com o distanciamento mínimo entre os clientes na fila.
O setor teve uma adaptação rápida à pandemia? Como você classifica a resposta do segmento supermercadista à crise sanitária?
O segmento supermercadista foi um dos primeiros a se adaptar aos novos protocolos de higiene, fizemos isso em tempo recorde. Desde o início da quarentena, a Asserj está acompanhando de perto todas as mudanças e atualizações, em constante contato com os órgãos de saúde para orientar de forma rápida e clara os supermercadistas e a população.
Foi um período de mudanças constantes diariamente, mas nos mantivemos firmes e atualizando em tempo real os associados supermercadistas e a população em geral. Antes mesmos das obrigatoriedades os nossos associados supermercadistas iniciaram uma série de medidas protetivas para os clientes e funcionários em suas lojas, como a barreira de proteção no caixa.
Qual a expectativa do segmento com o retorno gradual das demais atividades econômicas?
Estamos com bastante cautela para esse retorno das demais atividades. Manteremos mais do que nunca todas as medidas e protocolos de segurança, já que pode ser esperado um aumento no fluxo de pessoas. E vamos analisando de forma constante todas as necessidades que o setor precisar.
A crise sanitária reforçou a necessidade de adoção de novas tecnologias e práticas de gestão inovadoras, como oferta de aplicativos e delivery?
Com certeza! Definitivamente as compras por delivery e e-commerce vieram para ficar. Até mesmo supermercados de pequeno porte que não tinham nenhum sistema de entrega passaram a fazer o serviço com a pandemia, se adaptaram. Se eu tenho um consumidor que mudou de comportamento, ele é o centro do meu negócio. Eu preciso atender a expectativa dele. Cada vez mais os supermercados irão integrar o físico com o digital, e melhorar a experiência de compra do consumidor.
Como conciliar o combate a antigos problemas, como as perdas por quebras operacionais e rupturas de estoque, com a necessidade de implementação de novas tecnologias de vendas?
A pandemia veio como um acelerador para essas novas tecnologias para o setor supermercadista. E muitas inovações tem justamente esse objetivo de proporcionar ao varejista formas de conseguir maior segurança, em todas as áreas da loja, como por exemplo tecnologias que ajudam na prevenção de perdas.