Levantamento recente do instituto americano Gallup mostra o quanto nossa sociedade carece de ações para restaurar o bem-estar, a saúde mental e a qualidade de vida. É que, ao serem perguntados sobre experiências ou sentimentos negativos recentes, 40% dos adultos de 115 países citaram “preocupação” e “estresse”, espontaneamente.
Não há como negar que um dos gatilhos mais impactantes para a piora da saúde mental das populações foi justamente o isolamento social causado pelo confinamento, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) evidenciou em inúmeros alertas.
Por isso, é fato que cada um de nós precisa, em nossos papéis sociais, fazer o que for preciso para nos retirar desse estado de adoecimento generalizado. Nesse ponto, o conceito de Biofilia pode ajudar muito.
Popularizado por Edward Wilson na década de 1980, o termo significa “amor ao que é vivo” de uma maneira inata e com um poderoso senso de autopreservação. Algo que faz todo sentido, considerando a própria jornada da humanidade. Afinal, nos 300 mil anos de existência do Homo sapiens, mais de 290 mil deles foram vividos em total sinergia com a natureza, compartilhando o espaço com 10 bilhões de outras espécies.
O retorno, portanto, a ações que nos coloquem de volta a situações onde há trocas com o meio ambiente são agora fundamentais. Assim, hábitos simples como cultivar plantas no apartamento ou relaxar numa cachoeira podem ser, acredite, comportamentos evolutivos. E o bem-estar que essas atividades provocam reflete, até mesmo, em nossas vidas profissionais.
Estudo da View, uma das líderes mundiais em tecnologia e edifícios inteligentes, mostra que mais de 40% dos entrevistados associaram o próprio bem-estar a fatores simples como circulação de ar fresco nos ambientes de trabalho, luz natural e vista ampla para o exterior.
Também a Green Plants For Green Buildings destaca que, além de atraentes e esteticamente agradáveis, ambientes que conectam pessoas à natureza impactam em aspectos emocionais, elevando a sensação de bem-estar delas em 15%.
Pois bem: se esses detalhes fazem toda diferença no workplace, imagine o impacto que causam no planejamento e no sucesso dos eventos corporativos. E parto do princípio de que essas ações devem ser transformadoras, por sua própria razão de ser.
Sim, a Biofilia deve ser vista como uma tendência absoluta no setor. E aqui vou listar alguns porquês.
Ambientes biofílicos quebram paradigmas
A OMS apontou que os europeus tendem a passar 90% do tempo entre as paredes de casa, do trabalho e da escola, algo que também foi verificado nos Estados Unidos. No Brasil, vivenciamos o mesmo. De acordo com o Summit Mobilidade de 2022, por exemplo, nós gastamos em média mais de duas horas por dia apenas no trânsito.
Mais que necessário, é urgente, portanto, transformar nossos habitats e estilo de vida. Eventos alinhados aos princípios da Biofilia têm tudo para ser experiências imersivas de bem-estar. E quem já não experimentou a sensação benéfica e relaxante de sentir o sol quentinho batendo na pele? Ou mesmo, o prazer de inspirar ar fresco, junto com a visão de um jardim ou paisagem verde? Hoje atos de simplicidade se tornaram luxo em nossas rotinas aceleradas.
Mas felizmente, podem ser facilmente incorporadas em eventos, onde o mais importante é o contato humano e caloroso, para celebrar o contato com a natureza.
Por isso, experiências rodeadas por ecologia, iluminação natural e boa ventilação são grandes apostas hoje no mercado de eventos corporativos. Se não for possível o contato direto com o habitat natural, jardins verticais e até mesmo cenários que reproduzam paisagens outdoors são, igualmente, bons antídotos contra o estresse.
O design sustentável diz muito sobre sua empresa
A Biofilia também tem relação direta com o ESG, que sempre deve ser levado em conta no planejamento de eventos. Uma pesquisa da McKinsey, realizada no ano passado, revelou aspectos importantes sobre a criação de valor, a partir de produtos, serviços ou ações voltadas à sustentabilidade. Isso porque cerca de 40% dos entrevistados disseram acreditar que programas focados em uma agenda sustentável podem elevar a receita, minorar custos e trazer outros benefícios para os negócios nos próximos cinco anos. Ao mesmo tempo, 22% já sentem resultados positivos atualmente.
Assim, fortalecer o mindset e o posicionamento sustentável é poderoso para impactar positivamente os negócios. E investir em eventos com o viés da Biofilia, por consequência, reflete em atitudes responsáveis, fazendo mais do que reforçar o compromisso institucional das corporações.
Apostar na Biofilia é cuidar de pessoas e negócios
E mais: o psicólogo e professor David Strayer lembra, em sua palestra no TEDX, que a ideia do indivíduo multitarefa é danosa. Na realidade, segundo ele, só 2% da população tem habilidades suficientes para tal. O restante, ao insistir nisso, sobrecarrega partes importantes do cérebro. E uma delas é o córtex pré-frontal, associado à capacidade de pensar criticamente, elaborar estratégias, solucionar problemas e controlar impulsos.
Para Strayer, a gestão consciente de atividades é essencial para a saúde cerebral. Mas o contato com a Natureza também influencia nesse sentido, funcionando como um verdadeiro detox mental. Eventos corporativos com design ou agenda biofílica, portanto, têm muito a ganhar. Afinal, o público tende a se tornar mais tranquilo, atento, engajado, disposto. Pessoas felizes aprendem mais, se conectam melhor e, também, fecham parcerias ou negócios com maior satisfação.
Na prática, a Biofilia nos conecta a instintos e necessidades bastante primitivas – e nos torna mais modernos do que nunca.
* Silvio Sallowicz é CEO da Duo & Ecco.