De acordo com relatório da Fundação Getúlio Vargas, a balança comercial brasileira registrou o maior superávit da sua série histórica em 2021, no valor de US$ 61,2 bilhões – um aumento de US$ 10,8 bilhões em relação ao saldo de 2020. A corrente de comércio (exportações mais importações) atingiu valor recorde de US$ 500 bilhões, resultado de uma alta de 34,2% nas exportações e de 38,2% nas importações, entre 2020 e 2021.
O aumento das exportações foi liderado pela variação dos preços (29,3%), pois a variação no volume foi 3,2%. Nas importações, a liderança coube ao volume que cresceu 21,9%, enquanto os preços aumentaram em 13,1%.
Segundo a FGV, as exportações de commodities, com participação de 67,7% nas exportações totais, explicam o desempenho desse fluxo de comércio. Em valor, as vendas de commodities aumentaram 37,3%, sendo a variação dos preços de 38,9% acompanhada de um recuo no volume de 1,8%. As exportações de não commodities cresceram 28,1%, resultado do aumento dos preços em 12,4% e do volume em 13,5%. O recuo no volume exportado das commodities foi pequeno, sendo mais do que compensado pelas variações positivas nos preços das commodities e nos índices das não commodities.
As importações de commodities aumentaram sua participação na pauta de 7% para 8,5%, entre 2020 e 2021, associadas a uma variação de 69,5% em valor, entre 2020/2021, com aumento nos preços de 36,4% e no volume de 23%. No caso das não commodities, que explicaram 91,5% das compras externas do Brasil, a variação em valor foi de 35,8%, com aumento no volume de 22% e nos preços de 11,1%.
A elevação nos preços das commodities em 2021 levou a uma variação de 14,6% nos termos de troca, entre 2020/2021, após uma queda de 0,1%, entre 2019/2020. Não é esperada uma nova onda de aumento nos preços das commodities, mas o ano inicia com um cenário de incertezas referente aos efeitos da seca e da chuva em algumas safras, ao menor ritmo de crescimento da China e à possível intensificação do uso de subsídios em alguns países, como nos Estados Unidos em relação ao mercado de carne bovina.
O comércio exterior por tipo de indústria registrou um aumento, em valor, de 62,7% nas exportações da indústria extrativa, explicado pelo aumento de preços em 59,7% e de 1,3% no volume. A participação da indústria nas exportações totais passou de 23% para 28%, entre 2020 e 2021. Observa-se que dois produtos, minério de ferro e óleo bruto de petróleo, explicaram 94% do total das vendas externas do setor em 2021, e os dois produtos registraram variações, em valor, de 73% e 55,3%, respectivamente. Segundo os dados da Secretaria de Comércio Exterior, as variações do preço médio US$/tonelada foram de 65% para o minério e de 60,4% para o petróleo e, do volume, de 4,9% (minério) e queda de 3,1% (petróleo). A participação das duas commodities no total das exportações brasileiras foi de 26,8%.
A segunda maior variação em valor foi da indústria de transformação, de 26%, com participação de 51% nas exportações totais brasileiras em 2021, uma queda de 4 pontos percentuais em relação a 2020. O índice de preços aumentou 17,8% e o de volume, 6,5% entre 2020 e 2021. A pauta de exportações da indústria é mais diversificada que a da agropecuária e da extrativa, e os dez principais produtos explicaram 46% das vendas externas do setor, sendo, majoritariamente, produtos que podem ser classificados como commodities. Os produtos de maior valor adicionado foram os veículos de passageiros, entre os dez principais (10º principal produto exportado, com participação de 2,3% na pauta da indústria). Ressalta-se que os principais produtos exportados foram açúcar e melaços (6,4% de participação nas vendas externas da indústria), seguidos de carne bovina, farelo de soja, óleo combustível e carne de aves.
A agropecuária, com participação de 20% no total das exportações brasileiras, registrou aumento de 23,6% em valor, 27,2% nos preços e recuo de 1,8% no volume. A soja respondeu por 70% das vendas do setor e cresceu 35,3%, em valor, seguido do café, com 10,5% de participação e aumento de 16,7%. Repetindo o comportamento das commodities, a variação positiva do valor foi liderada pelos preços: 30,3% (soja) e 21,3% (café). A variação do volume foi de 3,8% para soja, e de recuo em 3,8% para o café.
O resultado do comportamento das vendas externas por indústria é refletido na composição dos principais produtos exportados. Em ordem decrescente, minério de ferro, soja e petróleo bruto explicaram 41% do total das exportações brasileiras em 2021, sendo de 46% a participação dos dez principais produtos. Os demais produtos na lista das dez principais exportações são comodities, como carnes, farelo de soja, celulose, semimanufaturas de ferro e aço e o açúcar.
Do lado das importações, a pauta tem um grau de concentração menor, sendo que os dez principais produtos explicaram 36% das compras externas e os três principais (adubos, óleos combustíveis e medicamentos), 16,7%.
A indústria de transformação respondeu por 91,5% das importações e registrou aumento de 34,6% em valor, 11,7% nos preços e 20,3% no volume, entre 2020/2021. Os três principais produtos importados da indústria são os mesmos da pauta total: adubos, óleos combustíveis e medicamentos somam 18,6% do total das compras externas da indústria.
A indústria extrativa participou com 6% no total das importações. Em valor, as compras do setor aumentaram em 89,8%, sendo que o volume registrou variação de 43,2% e os preços, de 31,6%. Os principais produtos importados foram: gás natural liquefeito e óleo bruto de petróleo. Juntos, os três produtos somam 88,5% do total das compras externas do setor. Chama atenção o aumento em valor de 298% das importações de gás, resultado de uma variação de 108% no preço e de 91% no volume.
O peso da agropecuária nas importações totais, em termos de percentual, foi de 2,5%, com variações positivas de 30,7% (valor), 22% (preços) e 7,2% (volume). O principal produto importado foi o trigo, com participação de 31% e crescimento de 24,3%. Em seguida, milho, com variação de 261% e participação de 13,7% e, em terceiro lugar, pescado, com participação de 11,4% e aumento de 66,8%. Ressalta-se o aumento nos preços médios do trigo (23%) e do milho (55%), que impactam nas cadeias de alimentos e pressionaram a inflação.
Não há mudanças na composição da pauta brasileira. Os setores de agropecuária e extrativa registraram saldos positivos de US$ 46,6 bilhões e US$ 62,8 bilhões, respectivamente, e a de transformação, saldo negativo de US$ 45,3 bilhões. Um resultado que se repete para a agropecuária, quando se analisa a série dos saldos, desde 2020. Para a indústria extrativa, déficits em 2000, 2001 e 2004 e, nos outros anos, os saldos foram positivos. Para a indústria de transformação, o saldo foi superavitário entre 2002/07 e, nos outros anos, deficitário. A dependência de commodities primárias na geração de superávits torna o comércio exterior mais sujeito às flutuações de preços.
Por último, a China permaneceu na liderança das exportações e importações brasileiras. A sua participação nas exportações caiu de 32,4% para 31,3%, entre 2020 e 2021, mas as exportações aumentaram em 29,4%. O índice de preços aumentou em 38,8%, mas o volume recuou em 6%. As importações cresceram, em valor, 45,2%, com aumento de preços em 9,9% e de 22,5% no volume. A participação nas importações foi de 23,4%. Apesar do maior aumento das importações em relação às exportações, em valor, o superávit passou de US$ 33 bilhões para US$ 40,1 bilhões.
Para os Estados Unidos, o segundo maior parceiro, as exportações cresceram 45% e, as importações, 41,3%, em valor. No caso das exportações, a variação nos preços foi de 24,4% e, no volume, de 20,4%. O déficit comercial aumentou de US$ 6,4 bilhões para US$ 8,3 bilhões. Para a Argentina, o superávit de US$ 591 milhões de 2020 passou para um déficit de US$ 69,9 milhões. As exportações cresceram 39% e, as importações, 57,7%. O volume exportado aumentou 23% e, o importado, 34,6%.
A Ásia confirma a sua liderança puxada pela China no comércio exterior brasileiro. A participação da região, sem a China, nas exportações do país foi de 15,1%, maior do que a da União Europeia, de 13%. Nas importações, a participação foi de 12,2%, menor do que a da União Europeia, de 17,4%.