Uma pesquisa divulgada na revista científica The New England Journal of Medicine atestou a eficácia de uma estratégia que infecta mosquitos Aedes aegypti com uma bactéria para reduzir casos de dengue, doença transmitida pela picada do inseto – mesmo vetor de infecções como zika e chikungunya.
Realizado na cidade de Yogyakarta, na Indonésia, o estudo utilizou 5 milhões de ovos do mosquito infectados com a Wolbachia, micro-organismo que, apesar de não causar danos ao inseto, domina as mesmas partes de seu corpo que o vírus da dengue precisa para ser disseminado, disputando recursos e tornando mais difícil sua replicação. Formada ao longo de nove meses, essa população de mosquitos contaminados com a bactéria foi liberada em metade das 24 zonas em que a cidade foi dividida pelos pesquisadores.
O experimento concluiu que houve uma diminuição de 77% no número de casos de dengue no local e 86% menos pessoas infectadas precisaram de atendimento hospitalar. Surpreendidos com o sucesso além do esperado da estratégia, os cientistas a expandiram para toda a cidade de Yogyakarta e áreas adjacentes, buscando eliminar a doença na região.
Em entrevista à BBC, Katie Anders, diretora de avaliação de impacto no Programa Mundial de Mosquitos e uma das envolvidas no estudo, destacou que o método “pode ter um impacto ainda maior quando implantado em grande escala nas grandes cidades do mundo, onde a dengue é um grande problema de saúde pública”.
Outro benefício constatado pela pesquisa é que a Wolbachia pode ser manipulada para alterar a fertilidade do Aedes aegypti e ser transmitida de geração a geração, prolongando seu impacto para o controle das infecções. Para David Hamer, professor de medicina e saúde global da Universidade de Boston (EUA), a estratégia com a bactéria também demonstra potencial para combater outras doenças disseminadas pelo mesmo vetor – uma das espécies de insetos nas quais a Wolbachia, presente em cerca de 60% deles, não costuma aparecer naturalmente.
O pesquisador Luciano Moreira, que trabalha para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e é líder do método no Brasil, afirmou à BBC que tem realizado um experimento semelhante ao de Yogyakarta em Belo Horizonte (MG): “A expectativa é que em até quatro anos, que é o tempo do estudo, seja possível conhecer o impacto do Método Wolbachia no controle das arboviroses em Belo Horizonte”.
(com informações da BBC News)