O Brasil encontra-se em um atoleiro econômico desde 2012, com suas tribulações se tornando ainda mais difíceis de lidar a partir de 2015. Estagnação e quedas no conjunto da economia doméstica, pontos indicados pelo produto interno bruto do país, têm sido lugar-comum para a sociedade brasileira. E, quando uma pequena recuperação toma lugar, como foi o caso em 2017, boa parte da mesma ocorre tão-somente para as parcelas mais abastadas da população, com a base societal ainda sofrendo com diversas questões estruturais e conjunturais que costumam aprofundar as desigualdades.
Desde então já tivemos vários projetos que tentaram endereçar esses problemas. O livro Valsa Brasileira, escrito por Laura Carvalho, professora de Economia da Universidade de São Paulo, esmiúça as bases das políticas econômicas escolhidas pelos governos anteriores que tiveram alguns acertos e muitos erros tanto em seu design quanto em sua execução. E agora, com um novo governo no poder, uma nova via de condução econômica está sendo tentada.
Esta via inclui uma abertura das fronteiras brasileiras para abarcar novos mercados. Em teoria, a redução de custos empregatícios por meio das reformas trabalhista e da Previdência Social servirá de incentivo a curto e longo prazo para a entrada de empresários estrangeiros que antes viam o Brasil como um lugar muito caro para se investir. Além disso, algumas atividades, incluindo apostas esportivas e jogos de cassino, também poderão trazer benefícios nesse sentido.
O Brasil não seria o primeiro país a vislumbrar em apostas e cassinos uma possibilidade de expansão econômica. Um dos nossos parceiros internacionais mais próximos, Portugal, fez o mesmo durante a crise econômica que abateu o mundo entre o fim da década de 2000 e o começo da década seguinte. Desde então, a indústria tem prosperado em terras lusitanas, ajudando também a impulsionar o turismo, que tem sido um dos grandes motores da recuperação econômica do país.
No Brasil, o efeito poderia ser bem semelhante. A partir de investimentos em casas de aposta e cassinos físicos, setor que vem sendo também impulsionado por plataformas de cassino online — área que vem crescendo de forma substancial —, tais movimentos de capital ajudariam na criação de empregos em vários níveis funcionais, desde serviços de atendimento a atividades financeiras. O marketing das atividades online, principalmente em torno de apostas, pode gerar novos fluxos monetários para mercados culturais importantes no país, incluindo times de futebol e redes artísticas — algo que já ocorre lá fora. Além disso, o efeito em cascata dos cassinos físicos cria uma rede de abastecimento com empresas menores cujos bens e serviços auxiliam no funcionamento destes grandes empreendimentos.
É com isso que o país mais ganha. É também algo que perdemos com as crises em algumas das maiores empresas brasileiras nos últimos tempos, cuja queda em atividade produtiva levou consequentemente a uma falta de investimentos que comprimiu de forma quase fulminante a base de postos de empregos do país, principalmente em atividades industriais. O turismo pode nos ajudar a recuperar boa parte destes postos, como foi o caso em Portugal.
Com isso, projetos de apostas esportivas e de cassinos a partir do Programa de Parcerias de Investimentos, criado pelo Governo Federal em 2016 para direcionar o fluxo de capitais nacional e internacional a empreendimentos em solo brasileiro por meio de parcerias público-privadas e privatizações, já estão sendo avaliados. Existe apoio tanto na esfera pública quanto na privada para que tais projetos possam ser avançados em um futuro próximo.
A “abertura dos portos”, se bem conduzida, pode ser uma boa via de reconduzir o Brasil ao seu posto como país que dá passos largos em seu desenvolvimento tanto social quanto econômico. As receitas geradas por novas atividades conduzidas no país ajudariam não só a eliminar déficits e dívidas públicas acumuladas ao longo dos anos, como também poderia servir como forma de recolocar na população econômica ativa milhões de brasileiros que desistiram de procurar emprego em tempos recentes devido às seguidas crises que enfrentamos no país.
Isso ainda necessita de uma gestão governamental ativa, servindo como reguladora e até mesmo investidora perspicaz para cortar potenciais exageros que advém do mercado. Este é um dos grandes segredos por trás dos países tidos como exemplo em crescimento e recuperação econômica no pós-Segunda Guerra, incluindo nações asiáticas como Coreia do Sul e Taiwan: governos que souberam equilibrar de forma quase magistral a presença da liberdade e da intervenção em suas respectivas economias.