A importância do Mercosul e as consequências da desindustrialização brasileira
Tomando-se o retrato do PIB, percebemos que a Indústria é primordial na composição desse importante indicador macroeconômico, mesmo que em forte tendência decrescente
No último mês, com as declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre as “abusivas” relações comerciais com o Brasil, veio em destaque novamente o papel que o comércio regional tem para a balança comercial brasileira.
Tomando-se o retrato do Produto Interno Brasileiro, percebemos que a Indústria é primordial na composição desse importante indicador macroeconômico, mesmo que em forte tendência decrescente.
A importância do Mercosul se dá justamente no contexto do avanço da China e do Sudeste Asiático no cenário industrial mundial. Com uma competitividade altíssima devido a vários fatores, dentre eles o baixo custo de mão-de-obra, essa região está concentrando de forma rápida o parque industrial do mundo.
Nesse cenário, o estabelecimento de taxas comuns a importações, por conta da União Aduaneira do Mercosul, é muito importante para a indústria brasileira. Mesmo que o parque industrial brasileiro seja incipiente, é competitivo entre seus pares sul-americanos. Isso permite que o Brasil tenha saldo positivo na exportação de produtos industrializados com os países do bloco, cenário cada vez mais raro para o Brasil no contexto mundial.
Muitos discutem o mérito do bloco econômico do Mercosul, já que o fato do Brasil estar incluso nele implica na exclusão de outras possibilidades de estabelecimento de relações comerciais. Por exemplo, se o Brasil não estivesse em União Aduaneira, poderia discutir a diminuição de tarifas de importação de forma mais consistente, com o fim de baratear produtos para o consumo e buscar taxas menores para a exportação de produtos agrícolas, na qual o Brasil possui vantagens competitivas. Será que vale a pena o Brasil proteger sua indústria em detrimento de outros setores da economia?
Atualmente essa discussão está em voga nos EUA, devido a polêmica política econômica adotada pelo presidente Trump. Deve-se ponderar os argumentos a favor e contra o aumento de taxas de importação. Historicamente, desde o princípio do capitalismo europeu, países praticaram o chamado protecionismo econômico, com o objetivo de blindar sua indústria e/ou seu setor agropecuário de concorrência externa. Diversas teorias econômicas mostram que a especialização na produção ou fornecimento de determinado produto ou serviço unida ao comércio internacional é muito benéfica para o crescimento econômico e aumento da riqueza do país.
Outros, afirmam que a diminuição do aproveitamento de terras ou a desindustrialização de um país são sérias ameaças à soberania nacional. De fato, em um cenário adverso que é a guerra, como um país sobreviveria sem indústria para a produção de armas e comida para o abastecimento interno?
Na prática, devemos avaliar a possibilidade real de guerra em um mundo globalizado e altamente interdependente. Dada essa avaliação concreta, podemos ponderar o ganho de renda causado pelo comércio internacional com acrescimento do risco à soberania nacional causada pelo enfraquecimento da indústria. Não existe uma resposta certeira para esse dilema, mas o questionamento deve ser feito e amplamente debatido pela sociedade e política no Brasil.
Tiago Reis — CEO e fundador da casa de análise financeira Suno Research